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Israel, o mundo fica contra você

Paulo Sérgio Leite Fernandes

  

Há três ou quatro anos, o escriba escreveu crônica envolvendo conflito entre Israel e palestinos, algo referente a disputas por fronteiras ou ocupação. O escrito se perdeu nas brumas da internet, mas poderia, quem sabe, ser encontrado a uma pesquisa mais aprofundada. Dizia-se, ali, que se uma criança fosse poupada, ou conseguisse esconder-se, abraçaria o fuzil do pai morto, fugiria para o deserto e atiraria em quantos inimigos visse, protegendo-se nas dunas. A crônica lembrava episódio bíblico em que Herodes mandava sacrificar todos os primogênitos, para que não restasse um só a poder contestá-lo quando crescesse. Daí, todos sabem, Maria e José fugiram para o Egito.

A história das religiões se perde no tempo, desde a multiplicidade dos deuses ao monoteísmo. O Deus-Sol dos egípcios se confunde, lá atrás, com a persignação dos hominídeos, apavorados com o estrépito dos raios vindos do céu, responsáveis, tais santelmos, por espraiamentos do terror e do fogo, aproveitado mais tarde para o cozimento das carnes de bichos caçados aqui e ali, evitando-se então o apodrecimento. Daí, o sol, a mãe-lua, a estrela cadente dos polinésios, os profetas, a Lei das Doze Tábuas, o dilúvio, Buda, a Virgem, os “lares” enfim, tudo posto em desordem no escrito, mesmo porque não se tem ordem no sobrenatural. À frente, as lutas religiosas pontilhando o mundo, bastando buscar, na Idade Média, os templários procurando o “Santo Graal” e dizimando os infiéis. Depois, ainda em desencontro e mais próximo de nós, o combate entre o I.R.A. e antagonistas voltados à prática de crença diferente. Em suma, um bispo sobre o vértice de cada montanha, cada qual orando pela vitória a seu deus particular. É assim. No meio disso, o povo judeu, com suas razões, deixou de lado atavismos e partiu, de certo tempo a esta data, para a defesa agressiva de suas crenças e de um território conquistado primeiro pelo dinheiro e depois mantido pelas armas, valendo ampliação das fronteiras, visto que a terra não pode ser perdida. Do outro lado os palestinos, reagentes também, parte deles violenta e cavando túneis extensos à maneira de cupins, arremedando os vietnamitas quando resistindo aos americanos do norte. O mundo deixa, normalmente, que as quizilas regionais se resolvam sozinhas, pois país é país, nação é nação e povo é povo. Às vezes, entretanto, o sono do cidadão, desde o mais humilde àquele intelectual, é perturbado em demasia, principalmente quando umas das facções atinge colégios mantidos por organização internacional, vendo-se crianças mortas no colo de salvadores eventuais. Aí é demais, não servindo de justificativa qualquer o erro de pontaria ou a necessidade de destruir células terroristas abrigadas sob as mesas dos refeitórios infantis. Vem a lume, sem querer, a fábula bíblica. Sempre sobra um infante. Se puder, manquitolante, foge para o deserto, vira homem, carrega a espingarda velha e se transforma em franco-atirador. Vai daí, Israel, o universo acaba se voltando todo contra você, tudo porque uma criança apareceu morta no colo de um cidadão anônimo. Cuidado, pois!

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