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O semestre sabático

Roberto Delmanto

Não sei onde a moda começou, se nos Estados Unidos ou na Europa, acreditando que tenha sido nos primeiros. É o ano sabático, no qual pessoas, em geral de meia idade, param um ano de trabalhar para repensar a vida e seus objetivos.

A maioria é de executivos, até estimulados a fazê-lo por grandes empresas que garantem seus salários e empregos. Mas há também profissionais autônomos que, tendo condições financeiras, fazem tal opção.

Outro dia, lembrei-me que meu pai Dante Delmanto, trabalhador incansável durante mais de cinquenta anos de advocacia criminal, também teve, senão um ano, pelo menos um semestre sabático.

Ele achava, com razão, que viajar é uma das melhores coisas da vida, mas que para isso era necessário ter  tempo, saúde e dinheiro. Embora tivesse saúde e dinheiro, sempre faltava-lhe tempo…

Aos 46 anos de idade, já consagrado como criminalista, resolveu passar três meses na Europa com minha mãe.

À época, os réus mandados a júri tinham de aguardar presos o julgamento. Para poder viajar sem prejudicar os clientes que estavam nessa situação, fez oito júris em dois meses, logrando em todos decisões favoráveis, com absolvição ou desclassificação dos crimes imputados.

Advogando até então sozinho –  o que só viria a mudar sete anos depois, quando meu irmão mais velho Celso se formou -contratou alguns colegas em ascensão profissional, seus amigos, para substituí-lo nas audiências de clientes soltos a serem realizadas durante sua ausência.

A viagem acabou se estendendo por seis meses e, ao voltar, teve uma surpresa: os jovens colegas, ao invés de fazer as audiências, simplesmente as tinham adiado…

Seus trabalhos profissionais acabaram, por isso, sendo redobrados. Daí em diante, suas férias limitaram-se a períodos bem curtos. Nunca mais pensou em ter outro semestre sabático…

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