A beca, o júri e o motel
Roberto Delmanto
Já consagrado, o criminalista era um orador notável, brilhando em sustentações orais e principalmente no júri.
Quando, com a cabeleira precocemente grisalha e sua impecável beca, assumia a tribuna da defesa nos julgamentos populares, provocava enorme admiração de ambos os sexos.
Entre os seus admiradores havia uma jovem e bela advogada que jamais deixava de assistir aos júris do criminalista, mesmo que no interior do Estado. Enquanto estava casado, resistiu às investidas amorosas da moça, que invariavelmente ocorriam após o término das sessões do Tribunal Popular.
Até que, depois de separado, ao final de um vitorioso julgamento em Comarca vizinha a São Paulo, o criminalista acedeu o convite da moça para irem jantar.
Durante este, em aconchegante restaurante perto do Fórum, o clima romântico entre ambos aumentou e, daí, a ida para um motel da cidade foi inevitável.
O criminalista escolheu o melhor quarto e tudo parecia caminhando para aquele momento mágico em que corpos e almas se encontram no mistério do amor.
Foi quando, em pleno enlevo, a jovem lhe fez um insólito pedido: que voltasse a vestir a beca. Cavalheiro, o colega não me contou o nome da moça nem o que aconteceu depois…