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Eleições – Termina o 1º turno

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer

Eleições – Termina o 1º Turno

         Curiosamente, o 1º Turno das eleições à Presidência da República termina remetendo Dilma e Aécio a uma segunda verificação, isto no dia 26 do corrente. Cronistas têm opinião, mas o escriba guarda a sua, até por um pudor hoje não muito natural. Vale a pena, entretanto, consideração superficial sobre alguns aspectos que, dependendo da escolha, hão de mudar, de certa forma, o panorama político-penal do país. Na verdade, durante a presidência de Dilma Rousseff, e ainda agora, há atividade censória extremada do Ministério Público Federal e da Polícia Federal no descortino de variadíssimas hipóteses de infrações penais atinentes a crimes financeiros, sem exceção da denominada “lavagem”, aproveitando-se a possibilidade legal das delações premiadas e colaborações, introduzidas no sistema nacional a poder de imitação do direito saxônico. Tais apurações se dão na plenitude da presidência de Dilma, influindo, é certo, na estabilidade do governo, levando-se em consideração, apesar disso, que a presidente acentua sua cooperação a que se apurem ilicitudes em evidência. De outro lado, parece que a candidata Marina não tocou muito no assunto que, diga-se de passagem, é autêntica luz vermelha à frente de vencedores e vencidos. Aécio, oriundo das Minas Gerais, recebe grande parte da votação da chamada burguesia, envolvendo-se nisso a classe média, esta última com qualificações bem conhecidas. Lá embaixo está o povo. O que é o povo? É integrado pelos trabalhadores braçais, comerciários em geral, bancários de pequeno porte, camponeses, domésticas, desempregados também, famintos, brasileiros todos sim, constituindo, o conjunto, a parte maior da população, sabendo-se que muitos sequer têm condição de votar. Tal eleitorado, agrupado a exceções havidas na remanescente, constitui o chamado poder de voto. Há um ditado, entre muitos, integrando o brado rotineiro da massa reunida em praça pública: “- O povo unido jamais será vencido”. Isso é bom, mas tal conglomerado precisa de liderança menos agredida pelas ondas ruins ameaçando o equilíbrio do barco posto no governo. Evidentemente, a bolsa-família veio em boa hora, sabendo-se que o pacote impede que milhares e milhares morram de fome. Acontece que ao lado havia a candidata Marina, mordendo também parte da ideologia professada pelo Executivo Federal. A moça tomou muito voto da outra. Enfraqueceu a casamata. Aécio, mineiro como poucos (a família do escriba é de Muzambinho), aproveita a brecha. No fim de tudo, briga repleta de surpresas, pois uma precisa superar sacudidelas profusas no panorama penal brasileiro, realçando inclusive que está estimulando a apuração; outro, firmado numa acepção tipicamente burguesa, oferece um trato mais suave entre o poder e a cidadania, sabendo-se que o país, na atualidade, é tirânico quanto à parte que lhe cabe nos ganhos dos contribuintes, aperfeiçoando, inclusive, os meios de aferição. Dentro do contexto, a classe média tem medo, e muito. Não se entenda, frente ao momento político, que a vitória dela ou dele vá modificar a atividade do Ministério Público Federal e da Polícia respectiva. As duas instituições, num sentido bem rude, têm atualmente saudável grau de independência, circunstância a fazê-las, mesmo com defeitos já apontados, quase absolutamente soberanas nas sacrificadas atribuições. Dir-se-ia que ambas dependem, sobretudo, de orientação advinda do Ministério da Justiça e do Diretor Geral. É assim e não é assim, porque as entidades, cada qual no seu panorama doméstico, têm vida própria e distinta dos habitantes da Corte. Uma ficção, dizem muitos, mas uma verdade, acentua-se também. Nessa vertente, vença quem vencer, vão-se os anéis, mas fica presente, e sempre, a investigação ácida. Ver-se-á. Ponto Final.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e quatro anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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