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Márcio Thomaz Bastos morreu

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer

Márcio Thomaz Bastos morreu

          O criminalista Márcio Thomaz Bastos morreu no dia 20 de novembro passado. Teve velório diferenciado. A presidente da República veio. Um ex-presidente também chegou. Políticos, advogados importantes, centenas de pessoas, enfim, foram prestar homenagens ao morto e à família. Morrer é obrigação, mas assusta e leva a série grande de opções nas despedidas, desde os primitivos aos cultos católicos ou judaicos. Sempre me impressionaram, desde adolescente, os cerimoniais praticados pelos “vikings”, a pira flamejante ou o barco incendiado, empurrado para o meio do mar levando os restos mortais do guerreiro. Toda vez que alguém parte para o além, lembro de “Beau Geste”, o livro e o filme. Três irmãos haviam prometido que teriam enterro assim. Segundo memorização imprecisa, um deles morre dentro de uma fortificação, no deserto, pois se haviam alistado na Legião Estrangeira. De certa forma, cumpre-se o desejo, porque o forte foi incendiado. Para não se dizer que o texto é triste, vale a pena comentar, igualmente, o último filme, quem sabe, protagonizado por Kirk Douglas, parecendo que o velho, ali, uniu os dois filhos, Michael e a moça. Um irmão morrera. Haviam prometido que ele teria exéquias místicas. Foram então a uma sitiola, puseram o morto num barco, atearam-lhe fogo e o empurraram para o meio de um lago. A barca não ia, voltava sempre. Foi terrível.

         O corpo de Márcio Thomaz Bastos se transformou em cinzas. Segundo a crônica, vestiram-lhe a “beca da sorte”, a mesma carregada por nós todos durante a vida. Há quem não mande lavá-la, porque impregnada por todos os mistérios volteando cada sustentação oral. Tocante a tal particularidade, veio-me às mãos, há poucos dias, não sendo possível dizer a razão, a veste talar de um doutor. Estava bem sofrida, porque deixada durante anos e anos num armário qualquer. Mandei arrumá-la. É toga de professor. Para quem não sabe, é nome dos trajes eclesiásticos ou outros usados em cerimoniais. Deu trabalho, mas achei o filho daquele professor. É também advogado. Aguardo-o para lhe devolver aquela vestimenta surrada.

       É costume, na advocacia, encomendar o morto protegendo-o com a roupa usada nos debates. Já vi militar enterrado com farda de combatente. Assim deve ser.

     A partida de Thomaz Bastos entristeceu a muitos, estes por serem amigos, eles por se recordarem de muitos viajores, todos em procissão, certamente, representando uma das mais belas vocações da advocacia, ou seja, a arte da defesa. Rezemos. Ponto Final.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e quatro anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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