Home » Ponto Final » A história da humanidade tem vários aspectos

A história da humanidade tem vários aspectos

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer

      A história da humanidade tem vários aspectos

Vêm a público, de vez em quando, alguns livros preciosos, embora de leitura fastidiosa. Um deles, reservado a quem tem tempo, ou àqueles que tempo algum têm, recebe o nome, em tradução, de “A escrita da história – Novas perspectivas”. Constitui-se em uma série de artigos sobre as várias formas pelas quais a história – e seu estudo – podem apresentar-se. Aquilo vai desde a “Nova história” até a  “História das imagens”, seguindo pela “História do corpo” e assim por diante. Certa vez, 48 anos atrás, escrevi opúsculo sobre tóxicos. A certa altura, afirmei que a historia da humanidade é a historia do vício. Aquilo valeu critica irônica de um moço, hoje antigo como eu, chamado Nilo Batista, penalista carioca que chegou, inclusive, a governador nas cercanias do Pão de Açúcar. Na verdade, eu queria dizer que a humanidade e seu passado podem ser analisados em múltiplos aspectos, indo desde a alimentação até os hábitos sexuais, sem que se perdesse o fio da meada. Quase 50 anos depois, a série de artigos organizados por Peter Burke parece justificar as afirmativas que fiz enquanto eu e Nilo Batista jogávamos futebol, ele nas areias fofas de Copacabana, eu nos areais duros da Baixada Santista. Aquele moço, hoje um senhor entrado nos anos, precisa ler a coletânea. Se lhe tivesse o endereço, poderia auxiliá-lo um pouco a adquirir cultura mais sólida. Realmente, o livreto que pus no mundo se propunha, embora sem grande profundidade, a acompanhar os dramas do ser humano a partir dos opiáceos, parando um pouco nas anfetaminas. Funcionava assim, e funciona ainda. A história da humanidade pode ser acompanhada, diga-se de passagem, até mesmo no vestuário que as mulheres usavam lá atrás, no século XIII, modificando-o aos poucos sem perder-se, adiante, nas roupas lançadas na Espanha pela Duquesa de Alba, seguramente uma das mulheres mais lindas da época. Aquela espanhola lançou moda, visitando os prostíbulos madrilenhos e mandando fazer, a seu gosto, os vestidos trajados pelas meretrizes, esmerando-se nisso a ponto de a importação de tecidos, naquele país, levar risco à estabilidade econômica. “Êta mulher bonita”, doutor Nilo Batista! De vez em quando, por amigos que devem ser comuns, ouço falar de você. Dizem que tem gênio ruim. Eu também tenho.  Como não o acho no Rio de Janeiro, mando-lhe uma crônica. Já viu que meio século serve de justificativa à assertiva feita no passado distante. Como a idade não me levou a complicar as coisas, simplifico metaforicamente o tema: não digo mais que a história da humanidade é a historia do vício. Convido-o a estudá-la a partir da Duquesa de Alba. É mais gostoso. Aliás, São Paulo teve reduto de moda na rua Augusta chamado “Daspu”, parodiando a “Daslu” das granfinas. Se preferir, analise o todo com início nas danças. Que bela origem tem o “flamenco”… com o tempo você chega lá.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e quatro anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

Deixe um comentário, se quiser.

E