Pizzolato foi e não volta
Paulo Sérgio Leite Fernandes
Fui bom estudante de direito internacional. Não como o Ministro Cardoso. Segundo consta, ele foi dos melhores alunos na PUC de São Paulo. Alguém o dedou ajudando muito colega de classe, ao tempo. De qualquer forma, consta que o Brasil vai pedir a extradição de Pizzolato, preso ontem na Itália depois de se descobrir que usara, na viagem da Argentina ao país do “pão, amor e fantasia”, passaporte falso pertencente, lá atrás, a irmão morto e devidamente inumado. Houve consulta, aqui, a grandes internacionalistas, hábeis no uso de expressões como ex tunc e ex nunc, sendo preciso confessar que eu sempre faço confusão. Do meu lado, quando tenho problema envolvendo extradição, consulto o jardineiro Areovaldo. Não sei por quais cargas d’água ele se chama isso, pois é bisneto de capitão-do-mato, ágil, embora já com seus sessenta anos e aquelas pernas de cipó trançado a amedrontar todo PM invadindo a “Rocinha”, no Rio de Janeiro. Daí, chamei o Areovaldo. Ele descansou sobre o cabo da foice (usa aquilo teimosamente, embora tendo máquina de cortar grama):
– Ariovaldo, cê lê jornal todo dia?
– Sêo dotô, a neta lê pra mim, quando pode.
– Cê já ouviu falar no Pizzolato?
– Dotô, é aquele que fugiu pra Itália e tava chupando uva no meio dos monte, quando foi preso?
– É um deles, Valdo. Parece que usou o passaporte do irmão morto.
– Sei. Foi da Argentina que ele saiu, né? Entrou nas Europa com aquele negócio na mão. Passou batido. Mais o que o dotô qué sabê?
– Cê acha que a polícia brasileira pega ele lá?
– Que é isso dotô. Os carcamano prenderam ele pruquê tá com passaporte farso e ele é tamém daquela terra. Puxa cadeia lá, dotô! E fica pru lá, a num sê que a pulícia daqui pegue um daqueles jato apreendido de traficante e vá até lá clandestinamente, pegando o gajo no cangote e trazendo de volta, como fizeram cum aquele outro, um tal de PC Faria, mais isso foi num pedacinho perdido do mundo e num tempo em que tudo era possível. Num dá mais. Essa estória de extradição inventada pur aí é só pra boi drumi. O Pizzolati passa uns aperto lá, né? Mais sai. Vai funcioná assim.
Dito isto, Valdo enrolou um cigarro de palha, acendeu e foi roçar o resto do jardim.
Se for preciso, cedo o Areovaldo para um parecer ao Ministério da Justiça, tudo misturado com o das Relações Exteriores. Com certeza, meu heráldico descendente de um nobre africano pode contribuir muito para a solução de conflito tão hermético embora, para ele, não haja diferença entre o tunc e o nunc. No fim, dá na mesma, ele toma umas caçambadas no meio do caminho mas acaba pegando um sol gostoso naqueles vilarejos que me deixam muita saudade, principalmente os situados nas cercanias de Milão.