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Francisco Lobo da Costa Ruiz morreu

(Paulo Sérgio Leite Fernandes)

A Secção de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil tem milhares de advogados inscritos, alguns importantes sim, pois frequentadores dos grandes processos, criminais e cíveis, havidos no país, mas a grande maioria se movimenta circulando, desenvolvendo esforços nas múltiplas causas tramitando na justiça em suas várias especificações. Em princípio é o ciclo da vida, porque a rotina é nascer, crescer, desenvolver-se, amadurecer, envelhecer e morrer. Todos morrem. É, enfim, o mais natural dos atributos: a grande “bruxa”, chamada de “Cremilda” por notável escritor brasileiro, tem passagem universal. Agrilhoa desde o apequenado ao mais ilustrado. Resta, eventualmente, noticiário em jornais de primeira linha e revistas eletrônicas. É assim e também assim não é. A humanidade é feita somente daquilo que passou, pois o presente é impossível de ser captado. Afirma-se que o que é já passou. Dentro do contexto, a memória se torna a grande guardadora daqueles que partiram.

Francisco Lobo da Costa Ruiz morreu ontem, 14 de março de 2019, à tarde. Aconteceu, segundo consta, enquanto advogando. O conhecimento veio aos amigos e companheiros pouco depois. O enterro foi hoje, às 15:00 horas, no Cemitério do Araçá. Fui lá. Olha-se o corpo do amigo, fingindo acompanhar o trajeto da formiga andando na grama. É bom disfarce para o sofrimento.

Hoje ainda, sexta-feira, manhãzinha, sem saber do fato, eu lia uma petição endereçada a juiz criminal de São Paulo, subscrita pelo Francisco Lobo, defendendo filha de velho companheiro já falecido. Havia, no meio do pedido, bom pedaço de paixão disfarçada na ortografia perfeita. Defesas feitas por carinho exigem muito mais. Chico Lobo era assim. Dinheiro valia menos; o coração prevalecia sempre. Francisco viveu dessa forma. Dava-se plenamente à advocacia criminal. Era entusiasmado no combate. Feneceu  no meio dele. Partiu como soldado, em batalha, repentinamente. Não ficou molengando, ocultando os sacrifícios sob as alfombras. Aliás, terminando um escrito há alguns dias, este escriba acentuava que advogado morre de beca. Assim foi.

         Francisco Lobo da Costa Ruiz era muito importante à advocacia brasileira. Significava um dos poucos remanescentes do criminalista clássico, discreto, corajoso, elegante mas nunca untuoso, resolvendo contendas com muito cuidado e resguardo da privacidade do cliente. A Associação dos Criminalistas do Estado de São Paulo acaba de enlutar-se por ele. Francisco vai embora no entremeio de uma grande causa criminal, não pela natureza econômica, mas por significar homenagem a colega que de nós precisava ainda, embora já morto. Chico deixou a tarefa em meio, mas vamos completá-la. Talvez, aquele empreendimento, no entardecer de 14 de março, estava a lhe pedir demais. Nunca se sabe.

 

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