Home »

É complicado ser parente de gente famosa

 

 

 Paulo Sérgio Leite Fernandes

         A sobrevivência tem, ao lado de uma ou outra dor crônica, algumas consequências emocionantemente saudáveis. Por exemplo, ainda muito ativo na advocacia criminal, frequento os tribunais superiores da pátria, colidindo costumeiramente com ministros impedidos ou até suspeitos, os primeiros por questões de sangue, os últimos por obstáculos trazidos pelo coração. Assim é com o Ministro Sebastião Reis Jr., do Superior Tribunal de Justiça, afetuosamente chamado, em Brasília, de “Sebá”. Para quem não sabe, Sebastião Reis Jr. é filho de Lúcia, irmã de minha mãe Alice, mulheres muito valentes oriundas da estirpe de João Leite Júnior, de São Sebastião do Paraíso, o mesmo que mandou a São Paulo Aureliano Leite, este com dois metros e dez de altura, dizendo-lhe: – “Vá estudar nas Arcadas, toma dinheiro pra passagem. No resto você se vira!”

         Foi assim. Daquilo tudo proveio a família Almeida Leite, um e outro com o sobrenome “Americano”, rendendo muito em benefício do estudo e ensino do Direito. Um pedaço daquela história está comigo.

         Sebastião Reis Jr. é formal e materialmente impedido em todos os meus casos. Mais ainda, leva tão a sério o impedimento que não me manda as fotos bonitas que extrai, ele que é muito e muito versado na arte de colher aspectos importantes da humanidade. Dentro do contexto, as coisas dele que chegam a mim vêm por terceiros. Não deveria ser assim, mas assim é. A toga e a beca nos separam, o que não me impede de o observar ao longe, os acórdãos primorosos e demonstrativos de uma Justiça Penal sempre bem posta.

         Eu estava examinando as consequências laterais da manifestação ontem havida no Largo de São Francisco e vi, com mais uma surpresa, que o Ministro Sebastião Reis Jr. esteve aqui, com sua maquina fotográfica, perenizando aquela reunião sublime. Chegou, viu o que viu, registrou o que achou interessante, fechou a aparelhagem e se foi, de uma só vez, deixando no primo mais uma sensação de ausência. Foi isso. Dia destes, eu pratico uma saudável vingança: publico foto minha e dele, ele acarinhado, garoto ainda, nos braços da nossa avó Hermínia, a mesma de São Sebastião do Paraíso, terra do jornalista e rábula João Leite. No fim das contas, sendo um sobrevivo, levo estas vantagens: guardo comigo fotografias desses moços todos, inclusive dos que passaram por mim, hoje penalistas respeitados, barbudos até, imitando os catequistas do século 19.

         No fim das contas, a presença do Ministro, com ou sem máquina fotográfica, é a medida da preocupação que temos com os destinos do nosso Brasil. E La Nave Va.

Deixe um comentário, se quiser.

E