O SÉTIMO SELO
Roberto Delmanto
No episódio inicial do Sétimo Selo, famoso filme de Ingmar Bergman, um guerreiro medieval montado em seu cavalo anda na praia. Em dado momento, depara-se com a Morte,sentada em um banco defronte a um tabuleiro de xadrez,que o convida a jogar.O guerreiro aceita, desce do cavalo e o jogo se inicia.
A simbologia da cena, depois transformada em conhecido quadro, mostra o drama humano: não podendo vencer tão terrível adversário, que um dia sempre nos alcançará, só nos resta tentar prolongar ao máximo o jogo, ou seja, nossa própria vida…
Foi a estratégia que tive de adotar na defesa de um empresário. Homem de meia idade e compleição franzina, sócio-proprietário de conceituada firma, divorciado há tempos, apaixonou-se perdidamente por uma jovem funcionária de rara beleza.
Transformado em um misto de amante e pai, passou a lhe dar tudo: pagamento de cursinho e depois faculdade, curso de inglês, automóvel, lipoaspiração e até um apartamento mobiliado para ela e familiares. Depois dereceber todos esses “presentes”, ela o trocou por um jovem.
Quando este foi assassinado na frente dela por dois homens desconhecidos, as suspeitas da autoria intelectual recaíram sobre o empresário. Apontado no inquéritopolicial como autor de ameaças à moça e a quem da mesma se aproximasse, chegou a ter a prisão preventiva pedida, embora negada.
Assumindo sua defesa, contra quem as provas eram meramente circunstanciais e que negava com veemência ter sido o mandante, passei a sustentar a inocência dele e a inépcia da denúncia, pois os autores materiais do homicídio jamais foram identificados.
Minha maior preocupação era, contudo, com a saúde do empresário que se deteriorava a olhos vistos.Convencido de que, se condenado, não resistiria mais de um mês na prisão, usei de todos os recursos legais para mantê-lo em liberdade.
Considerado culpado no primeiro júri, apelei arguindo preliminarmente a nulidade do julgamento, tendo obtido um voto favorável que me permitiu opor embargos infringentes.Antes que estes fossem julgados, recebi a notícia do falecimento do cliente.Treze anos e meio haviam se passado e ele não fora preso, como era meu principal objetivo.
Agora, ao invés da justiça humana, plena de erros ao absolver culpados e, pior ainda, ao condenar inocentes, iria prestar contas à Justiça Divina que, embora magnânima, nunca se equivoca…
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