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UMA PACIENTE INESPERADA

 

                                                               Roberto Delmanto

 

         Após 30 anos de casado, já com netos, o conceituado otorrino disse à esposa que queria se separar. Esta, surpreendida e chocada com a atitude do marido, depois de algum tempo acabou se conformando, pois, nos últimos anos, o casamento, na realidade, se transformara apenas em amizade.

         Ele saiu de casa e tudo caminhava para uma separação consensual.Foi quando ela descobriu, por acaso, que o verdadeiro motivo do marido fora uma mulher bem mais moça pela qual se apaixonara.

         Revoltada, entrou com uma ação de separação litigiosa, exigindo uma pensão alimentícia bastante alta, que foi deferida pelo juiz.

         O médico, achando que estava muito acima de seus rendimentos, através de seu advogado pediu a redução da pensão.

         Tendo o magistrado mantido seu valor, o causídico, especialista em direito de família, aconselhou-o a retardar os pagamentos como forma de pressionar a mulher para que chegasse a um acordo razoável.

         O médico seguiu a orientação e passou a atrasar reiteradamente a pensão.

         Certa tarde, quando atendia os vários pacientes agendados, a secretária veio lhe avisar que uma mocinha que por ali passava, vendo a placa do consultório, perguntou se podia ser atendida, pois estava com muita dor de garganta.

         O otorrino, homem muito humano, fiel ao juramento de Hipócrates, disse que entre uma consulta e outra a atenderia.

         Passado algum tempo, solicitou à secretária que a fizesse entrar.

         Ao adentrar a sala, perguntou à jovem seu nome e ela disse chamar-se Gisele. Pediu que se sentasse e, antes de examiná-la, indagou desde quando estava com dor de garganta.

         Foi, então, que a mocinha, para seu total espanto, calmamente revelou que não tinha qualquer dor, sendo, na verdade, investigadora de polícia da Delegacia do bairro e que ali estava para cumprir um mandado de prisão civil por falta de pagamento da pensão, exibindo-o ao médico.

         Este, ao lê-lo, quase enfartou. Explicou à policial, que, ao final do dia precisava visitar dois pacientes que operara de manhã.

         A investigadora lamentou nada poder fazer, dizendo que o Delegado Titular aguardava que ela apresentasse o médico até às 18:00 horas, impreterivelmente.

         Já eram cerca das 16:00 horas quando o otorrino conseguiu falar com seu advogado. Este correu até a Vara de Família, deu um cheque pessoal seu saldando o débito e obteve um contramandado de prisão.

         Pouco antes das 18:00 horas, o causídico, esbaforido, chegou ao consultório com o contramandado em mãos, “salvando a pele” do cliente.

         Recuperado do susto, este resolveu trocar por outro o advogado que tão temerariamente o aconselhara. E, a partir daí, parou de atrasar a pensão alimentícia, pagando-a pontualmente…

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