AOS DEBATES
Roberto Delmanto
César Salgado e Ibrahim Nobre foram os dois grandes promotores do júri paulista na primeira metade do século passado.
Oradores brilhantes, de enorme cultura, não só jurídica, e moral inatacável, eram debatedores praticamente invencíveis.
A história de ambos se confunde com a própria história do Ministério Público bandeirante. O busto de Ibrahim encontra-se hoje no Plenário do antigo Tribunal do Júri paulistano, atual Museu do Tribunal de Justiça, junto com o de meu pai, Dante Delmanto. No Salão dos Passos Perdidos da mesma Corte, situado entre a entrada principal e o Museu, o busto de Rui Barbosa, o maior dos advogados brasileiros. Em outras dependências do Palácio da Justiça, os bustos de César Salgado, de Nilton Silva, famoso promotor de meados do século passado, e dos criminalistas Antonio Covello, Marrey Júnior, Américo Marco Antonio, Euvaldo Chaib e Antonio Augusto de Almeida Toledo.
César Salgado, certa vez, referindo-se à palavra, disse que ela era tão importante, que Deus, antes de criar o mundo, ao dizer, “cria-te mundo”, a havia criado…
Depois de se aposentar, Ibrahim, um dos líderes da Revolução Constitucionalista de 1932, foi defender, como advogado, um acusado de homicídio.
Na outra tribuna do júri, pela acusação, estava seu amigo e ex-colega César Salgado, ainda na Promotoria.
Ao fazer uso da palavra, Ibrahim disse aos jurados: “Eu, Ibrahim Nobre, paulista de quatrocentos anos, vos garanto que o acusado é inocente”.
Em lendário aparte, César retrucou, igualmente se dirigindo aos jurados: “Eu, César Salgado, paulista de quatrocentos anos, vos garanto que o acusado é culpado”.