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GUERRA E PAZ

Roberto Delmanto

 

                        É de Benjamin Franklin, um dos fundadores da nação norte-americana, a célebre frase: “Não existe paz ruim, nem guerra boa”. Ela continua atual, pois a guerra sempre vitima inocentes, destrói famílias, cidades e nações. Já a paz, embora implique concessões de parte a parte, respeitados limites éticos e morais, causa menos danos e é sempre preferível.

                        A diplomacia brasileira, independente do partido que esteja no poder, é respeitada no mundo inteiro, tanto que, tradicionalmente a Assembleia Anual das Nações Unidas é sempre aberta por nosso Chefe de Estado. Baseia-se no princípio da autodeterminação dos povos, ou seja, cabe a cada país escolher seu regime político (república, monarquia, capitalismo, comunismo, democracia, ditadura de esquerda ou de direita), sem intervenção de outros, vizinhos ou não. A reação armada só se justifica no caso de um ataque real e efetivo contra uma nação, em legítima defesa, jamais como uma ação preventiva, tal qual preconizada pela doutrina Bush. Nesse sentido, o Brasil segue as diretrizes da ONU, nunca agindo por contra própria ou em coligação com outras nações sem o respaldo das Nações Unidas.

                        Hoje, o mundo se defronta com dois grandes problemas: o terrorismo islâmico e a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte.

                        O terrorismo jihadista nada tem a ver com a religião do Islã, pacífica, compassiva, solidária, temente a Deus e de convivência amistosa com os demais credos. Basta lembrar como, em sete séculos de ocupação mulçumana na Península Ibérica, os judeus e os cristãos foram respeitados.

                        O chamado Estado Islâmico, ou Califado, não surgiu por acaso. Quando os Estados Unidos invadiram o Iraque, o pretexto de destruir armas químicas que, como se provou, inexistiam, a par de tirar do poder o ditador Saddam Hussein, desestabilizou o país, aumentando sobremaneira o secular conflito entre sunitas e xiitas.

                        Na Síria, a ação norte-americana e francesa em apoio aos rebeldes que lutam contra o ditador Bashar al-Assad, e a contra ação russa e iraniana visando mantê-lo no poder, também desestabilizou essa outra grande nação árabe.

                        Criou-se, assim, um vazio territorial e político entre esses dois países, que acabou sendo ocupado pelo Califado. Horrorizados pelo avanço deste e pelos seus métodos de incrível crueldade, os Estados Unidos formaram um coalizão de cerca de duas dezenas de nações para combatê-lo. Algumas agem diretamente através de bombardeios, outras financiam a ação.

                        A imprensa ocidental, cujo compromisso maior deve ser sempre com a verdade, por razões ignoradas não noticia o real volume, periodicidade e potencialidade dos ataques, nem o número de vítimas, inclusive de civis, causados por eles. Se, de uma parte, o Estado Islâmico parou de se expandir, de outra, resolveu revidar com ações terroristas na Europa e nos Estados Unidos, não poupando qualquer nação que, direta ou indiretamente, o atinja. E, colocando-se como “vítima” do Ocidente, faz a cooptação de jovens mulçumanos, muitos deles inclusive originários da Europa que, com o pretexto de alcançarem o paraíso com suas ações, não hesitam, eles próprios, em se imolarem.

                        Tal terrorismo revela-se cada vez mais difícil, senão impossível, de se combatido, pois seus agentes agem isolada e autonomamente, atacando centros populosos da França, Alemanha, Espanha, Inglaterra, Bélgica, Suécia e outros países, causando centenas de vítimas e pânico geral, objetivo maior dos terroristas.

                        A par do conflito com o Estado Islâmico, outra grande preocupação do mundo é com a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte. Ambos chefiados por líderes belicistas, a tensão vem aumentando a cada dia. Embora outras nações possuam, de há muito, bombas atômicas em seu arsenal, como os Estados Unidos, Rússia, França, Israel, Índia e Paquistão, o seu desenvolvimento pelos norte-coreanos, ao lado de mísseis de considerável alcance, causa grande preocupação.

                        É evidente, entretanto, que a Coreia do Norte, governada com mão de ferro pelo ditador Kim Jong Un, não tomará iniciativa de nenhum ataque atômico. Sendo o último país radicalmente comunista do mundo, não tem, nem pode ter, qualquer intenção expansionista. O que pretende, com suas armas nucleares e sua retórica agressiva, é preservar, bem ou mal, a sua independência e a sua ditadura.

                        Já os Estados Unidos, sob a presidência imprevisível e belicosa de Donald Trump, me parecem mais preocupantes. Com efeito, se de um lado, sua intervenção na 2ª Guerra Mundial foi decisiva e vital para a derrota do nazismo, de outro, eles foram, até hoje, o único país do mundo a lançar duas bombas atômicas contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki, sob o argumento – que, como ser humano, jamais me convenceu – de encurtar a guerra com o Japão e poupar vidas norte-americanas. A única esperança atual parece ser a China, de quem a Coreia do Norte depende economicamente.

                        Um terceiro foco preocupante, apesar de regional, surge, agora, na vizinha Venezuela. A indisfarçável instalação de uma ditadura, com a supressão do Legislativo, controle do Judiciário, ação violenta de milícias apoiadas pelo Governo e aumento de presos políticos, levou Trump a aventar a possibilidade de uma intervenção armada.

                        Diante desse tríplice cenário, o pensamento de Benjamin Franklin, por sua sabedoria e atualidade, não deve ser esquecido. E a diplomacia brasileira, por sua tradição e respeitabilidade, independente de quem esteja no poder e não obstante nossas desavenças internas, não pode deixar de contribuir para a solução desses conflitos, fazendo jus ao destino pacifista, solidário, multirracial e plurirreligioso que a História nos reservou.

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