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O IMBECIL

Roberto Delmanto

O júri do despachante aduaneiro acusado de ter sido o mandante do homicídio de um jovem que conquistara sua amante, corria otimamente para a defesa, por mim exercida.

Mesmo porque, sempre negada por ele a autoria, sequer os executores haviam sido descobertos, sendo as provas meramente circunstanciais.

Todavia, quando após a inquirição das testemunhas de acusação e de defesa, o acusado foi interrogado, a absolvição que parecia certa sofreu um grande revés.

Talvez querendo inconscientemente mostrar que não era um passional, portou-se com muita frieza e arrogância, causando péssima impressão nos jurados.

Condenado por maioria de votos, apelei, obtendo um voto favorável à anulação do julgamento. Antes que os embargos infringentes fossem julgados, o cliente, cuja saúde já vinha há tempos se deteriorando, faleceu. Meu consolo, por acreditar na sua inocência, foi ter conseguido mantê-lo em liberdade por 13 anos, certamente um recorde em casos de homicídio.

No imperdível livro deMatthieu Aron, “Les Grandes PlaidoiriesdesTénorsduBarreau” (Os grandes discursos dos tenores do foro), Editions Jacob-Duvernet, 2010, é descrito um caso semelhante, ocorrido em Marselha, na França.

Respondendo à acusação de ter violentado e assassinado uma menor de 8 anos, ocultando-lhe o corpo, a precariedade das provas apontava para a absolvição. Mas, ao ser interrogado, o acusado foi por demais arrogante e prepotente, acarretando visível repulsa no corpo de jurados.

Em sua defesa, o famoso advogado Paul Lombard disse da tribuna que, apesar da fragilidade probatória, se defrontava, no caso, com três desafios: a eloquente fala do promotor, a emocionante peroração do assistente do Ministério Público, mas, principalmente, o comportamento do acusado, cuja arrogância e prepotência fizeram-no passar por uma pessoa fria, calculista e insensível que na verdade não era. E, dirigindo-se ao cliente, disse-lhe com todas as letras: “Você é um imbecil”…

A ousada tática defensiva, entretanto, não surtiu efeito e o acusado, aos 22 anos de idade, foi condenado à morte pela guilhotina.

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