O CINEMA E O JÚRI
(Parte II)
Roberto Delmanto
Entre os filmes sobre júri que considero imperdíveis, estão dois franceses.
O primeiro é La Verité (A Verdade), de Georges Clouzot. Uma jovem, interpretada por Brigite Bardot no auge da sua beleza, mata o amante e é presa preventivamente.
No julgamento, enquanto o promotor fala, sua versão dos fatos aparece na tela. Vemos, então, a frieza com que teria agido a acusada, assassinando premeditadamente o companheiro, e não temos dúvida que devia ser condenada.
Na segunda parte do filme, por ocasião da defesa do advogado, os mesmos atores interpretam os mesmos fatos, agora de acordo com a versão defensiva. Aí, vemos que é o amante quem merece nosso desprezo, submetendo a pobre moça a todos os sofrimentos. Simpatizamos com ela, e achamos que merecia, senão a absolvição, ao menos receber uma pena atenuada por homicídio privilegiado, motivado por relevante valor moral.
Quando o júri se reúne para deliberar, a acusada se suicida. Como tantas vezes sucede com a falha justiça humana, ficamos, assim, sem saber qual foi, afinal, “laverité”.
Outra película magnífica e mais recente é A Corte. O magistrado presidente do júri no interior da França é implacável. Nunca condena ninguém a menos de 10 anos, daí porque é conhecido por “lejugedeuxchiffres”, ou seja, o juiz dois dígitos, sendo qualquer semelhança com alguns juízes brasileiros mera coincidência…
Em determinado julgamento, um jurado adoece e é substituído por uma mulher. Esta é uma antiga paixão do magistrado e ele, a partir daí, para surpresa de todos, mostra-se completamente diferente. O réu, acusado de ter matado o próprio filho menor e muito doente, prefere ficar em silêncio. E o juiz, buscando a verdade real – objetivo maior do processo penal -, para espanto dos presentes, faz de tudo para ajudá-lo, superando até o próprio defensor.
Acabamos por acreditar que o acusado silenciara para defender a mulher, mãe da criança e possível assassina. Na dúvida, ele é absolvido.
E, quanto à pessoa do magistrado, vemos como o amor pode tornar mais humanos até corações aparentemente insensíveis…