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A CADEIRA DO CRIMINALISTA

(Roberto Delmanto)

 

Há anos, o advogado criminal tinha em sua sala, junto à mesa de trabalho, a mesma cadeira giratória. Adquirida de conceituada fábrica, teve o seu couro preto trocado algumas vezes, mas permanecera com ela, por considerá-la bonita, prática e agradável, aparentando continuar sólida.

Seu filho e sócio lhe havia dito, várias vezes, que deveria trocá-la por outra mais moderna e ortopédica, que faria bem às suas costas já não tão jovens.

Mas o pai, homem conservador, insistia em não substituí-la, inclusive, porque, no íntimo, achava que ela lhe dera profissionalmente muita sorte.

Certa tarde, ao sentar-se junto à mesa para com ele discutir uma causa do escritório, o filho voltou a insistir que trocasse a cadeira, dizendo que ela estava balançando lateralmente.

O pai respondeu, mais uma vez, que a mesma era ótima e muito cômoda, acrescentando que estava sólida e firme, não apresentando qualquer instabilidade.

Após o filho ter deixado a sala, continuou escrevendo em sua mesa, até que, em determinado momento, ao virar a cadeira para pegar um livro na mesinha ao lado, ela literalmente tombou para trás, levando junto o criminalista, que chegou a bater levemente a cabeça na parede, mas cujas costas nada sofreram, amparadas que foram pelo próprio encosto.

Prensado entre a cadeira e a parede, silenciosamente, sem chamar ninguém para auxiliá-lo, conseguiu sair pela lateral e levantar-se.

Ao examinar a cadeira, verificou que seu eixo estava enferrujado, certamente há tempos, e havia se partido em dois, separando a base giratória do assento.

Ficou feliz em não haver se machucado e do hilário episódio não ter ocorrido na presença de um cliente, mas saiu mais cedo do escritório e, no mesmo dia, comprou uma nova, moderna e ortopédica, como há tanto tempo o filho vinha lhe recomendando…

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