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SOMOS TODOS RESPONSÁVEIS

SOMOS TODOS RESPONSÁVEIS

(Roberto Delmanto)

 

A alternância do poder faz parte da democracia. Aos governos de esquerda – mais preocupados com a busca do equilíbrio social – sucedem, por vezes, governos de direita – mais preocupados com a manutenção da ordem e do status quo. É a roda da história que sempre se repete…

No Brasil, acabamos de passar não da esquerda para a direita, mas daquela para a extrema direita, o que traz enorme preocupação com a possível revogação de garantias constantes de nossa Constituição, muitas delas cláusulas pétreas imutáveis por emendas constitucionais.

Igualmente, com a eventual alteração de leis penais, processuais penais e mistas que buscam a ressocialização do delinquente através dos diversos regimes de penas privativas de liberdade, da sua progressão para os presos de bom comportamento e das saídas temporárias aos que delas se fazem merecedores. E, ainda, com a possível diminuição da responsabilidade penal para menos de dezoito anos, alimentando com nossos jovens as facções criminosas que dominam as medievais, vergonhosas e superlotadas cadeias brasileiras.

Nelson Mandela disse que a primeira coisa que alguém deve fazer ao entrar numa prisão é perguntar a si mesmo: “O que eu fiz para estar aqui?”. Parafraseando o grande líder, eu diria que deveríamos indagar: “O que fizermos para chegar à extrema direita?”.

Ao meu ver, muitos foram, solidariamente, os responsáveis: o PT, por ter se deixado levar pela corrupção e pelo descontrole administrativo-fiscal, desapontando os que acreditaram nos seus antigos ideais e reforçando a repulsa daqueles que neles nunca creram; os demais partidos de esquerda, de centro-esquerda e de centro por deixarem de se unir contra o anunciado perigo totalitário.

Mesmo após o 1º turno, líderes de centro-esquerda como Marina e Ciro, ou de centro como Fernando Henrique, Alckmin e Meirelles, deixaram de apoiar Haddad, único a remanescer na disputa com Bolsonaro, optando a primeira por um inédito, senão ridículo, “apoio crítico”, e os demais por uma covarde neutralidade. Todos, como Pôncio Pilatos, lavaram as mãos… Demonstraram serem políticos, mas jamais estadistas.

Assim, ao contrário do que ocorreu recentemente na França com a união em torno de Emmanuel Macron, levando-o a derrotar Marine Le Pen, aqui não se formou uma Frente Democrática.

Também responsável, mas em menor escala, foram os 55 milhões de eleitores que votaram em Bolsonaro, olvidando-se do seu documentado passado totalitário em que pregou fuzilar pessoas, inclusive um ex-Presidente da República, e enalteceu um ex-coronel condenado por chefiar a tortura nos porões da ditadura militar.

Os jovens desconhecem o que se passou durante a ditadura do Estado Novo (getulista), de 37 a 45, e, principalmente, por ocasião da ditadura militar, de 64 a 85. Os que a elas sobreviveram, não souberam narrar seus horrores às novas gerações. Mas, como diz o ditado popular, “cada povo tem o governo que merece”…

Numa eleição plebiscitária, predominou a reprovação ao petismo – cujos erros já vimos – e a aposta na extrema direita – cujos perigos a história nos dá conta.

Agora,aos 45 milhões de eleitores que perderam, resta o imperativo de participar de uma oposição construtiva, jamais destrutiva, colocando antes de tudo o Brasil.

Mas, principalmente, aos operadores do direito – advogados, promotores, juízes, professores, doutrinadores – e aos universitários, zelar, diuturnamente, pela permanência do Estado Democrático de Direito, que, parodiando Churchill, custou não só suor e lágrimas, mas muitas vidas…

 

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