PARA ONDE VAI O ITAMARATI?
Roberto Delmanto
A diplomacia brasileira sempre foi uma das mais respeitadas no mundo, baseando-se, sobretudo, no princípio da autodeterminação dos povos. Ou seja, cada nação tem sua forma de governo: república, monarquia, presidencialismo, parlamentarismo, regimes mais liberais ou mais autoritários, de esquerda ou de direita, não devendo haver ingerência externa. O que não significa que, como uma nação democrática, não nos aproximemos e não nos identifiquemos com aquelas que perfilham os mesmos ideais.
Seguindo o citado princípio, o Brasil, até hoje, só se envolveu em duas guerras, ambas defensivas: a do Paraguai, durante o reinado de D. Pedro II, quando fomos invadidos pelas tropas daquele país e, junto com a Argentina e o Uruguai – na chamada “Tríplice Aliança” – tivemos que nos defender; e na 2ª Guerra Mundial, quando, após termos dois navios afundados pelos alemães, passamos a integrar – com a Força Expedicionária Brasileira, a FEB – o exército aliado na luta contra o nazismo, tendo nossos pracinhas atuação heroica na Itália.
O respeito pelo Itamarati é tanto que, desde há muito, a Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada a cada ano, é invariavelmente inaugurada com o discurso do Presidente da República brasileiro.
A vocação pacifista faz parte da índole do nosso povo, bom, alegre, otimista, solidário e acolhedor, formado por diversas raças: índios, portugueses e negros, além de imigrantes dos mais variados cantos da terra que para cá vieram na busca de melhores dias.
Entre nós não há racismo, nem discriminação religiosa; árabes e judeus são amigos e, inúmeras vezes, vizinhos de comércio; a contínua miscigenação nos transformou em um país predominantemente mulato; nossas portas continuam abertas aos imigrantes, que, no futuro como no passado, sempre acabam por nos enriquecer como nação.
Com a eleição de um governo de extrema direita, eis que nossa política externa muda radicalmente. Sob a inspiração do filósofo Olavo de Carvalho, deixamos a independência que historicamente a caracterizou, para nos alinharmos, de forma absoluta, à política externa norte-americana.
Assim, na crise da Venezuela, com quem temos extensa fronteira, abrimos mão do nosso papel histórico de mediadores confiáveis na América do Sul, que poderia auxiliar na transição pacífica para uma verdadeira democracia, sem presos políticos ou milícias governamentais e com eleições totalmente livres.
Na Palestina, contrariando resolução da ONU que sempre respeitamos, decidimos, seguindo o exemplo dos Estados Unidos, mudar nossa embaixada de Tel-Aviv para Jerusalém. Perdemos, com isso, a isenção que por tantos anos mantivemos e que nos propiciaria construtiva mediação na busca da tão almejada pacificação no Oriente Médio.
Mas, como brasileiros, não podemos jamais deixar de ter esperança, lembrando os versos do imortal poeta chileno Pablo Neruda: