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O DESEMBARGADOR E A ENFERMEIRA

 

Roberto Delmanto

 

R., moça de classe média de uma pequena cidade paulista, nunca tivera juízo, dando sempre muito trabalho aos pais; era, como se costumava dizer antigamente, “da pá virada”… Acabou se apaixonando por um jovem que cumpria pena por tráfico de drogas na cadeia local; quando ele saiu da prisão, aparentemente regenerado, casaram-se contra a vontade da família dela.

Algum tempo depois, o marido voltou ao tráfico, tendo a polícia encontrado grande quantidade de entorpecente escondida no telhado da residência do casal; enquanto o rapaz fugia pela janela, R. foi presa em flagrante.

Impetrei um habeas corpus em seu favor junto ao Tribunal de Justiça, mas, por ser à época o comércio de drogas crime insuscetível de liberdade provisória, a ordem foi denegada. O desembargador relator foi extremamente duro em relação a R., praticamente prejulgando o feito.

Terminada a instrução criminal, a pedido da própria Promotoria, foi ela absolvida pela falta de prova segura de que soubesse da existência do entorpecente, enquanto o marido era condenado à revelia.

R. veio, então, para a Capital, fez um curso de auxiliar de enfermagem e acabou conseguindo emprego em um grande hospital.

Anos mais tarde, o desembargador relator foi submetido a uma delicada cirurgia no hospital em que R. trabalhava, sendo atendido por ela. R. logo percebeu de quem se tratava, mas o desembargador não a identificou pelo nome. Gostou muito da competência e delicadeza de R., e, ao ter alta, convidou-a para ser sua enfermeira particular nos horários de folga, enquanto completava a convalescência em casa.

Certo dia, já na residência, o magistrado perguntou a R. de que cidade ela era; ao ficar sabendo, comentou com a mesma que já tivera um caso de drogas naquela pequena comarca, envolvendo uma jovem. R. disse que a conhecera apenas superficialmente, não revelando que se tratava dela própria.

E continuou cuidando do desembargador até seu completo restabelecimento. Jamais, em momento algum, lhe veio a menor idéia de vingança…

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