O CINEMA E O JÚRI
(Parte I)
Roberto Delmanto
Alguns filmes que tratam dos julgamentos populares são extraordinários.
Lembro-me, entre eles, de Testemunha de Acusação, dirigido por Billy Wilder e interpretado por Charles Laughton, Tyrone Power e Marlene Dietrich. Laughton é um veterano advogado cardíaco, proibido por seu médico de participar de júris. Desobedecendo a ordem, aceita defender Tyrone, acusado do homicídio de uma velha senhora de quem era herdeiro.
Sua atuação memorável, sua experiência e perspicácia são uma verdadeira aula para os que pretendem advogar no Tribunal Popular. Com umprimoroso blefe, desmonta a principal testemunha da promotoria. E o final é surpreendente.
Imperdível, também, a primeira versão do Julgamento de Nuremberg, no qual, após a 2ª Guerra Mundial, chefes nazistas são acusados. Um deles é o ex-Ministro da Justiça, interpretado pelo ator norte-americano Burt Lancaster, para cuja defesa é nomeado um jovem advogado alemão, representado por MaximilianSchell, que foi seu aluno na Faculdade de Direito e lhe devotava grande admiração.
Na inquirição de uma testemunha de acusação, o defensor, com enorme habilidade, vai literalmente destruindo a depoente, uma mulher que teria sofrido abusos. Em dado momento, o ex-Ministro interrompe o advogado, dizendo que não admitia que usasse, em sua defesa, os mesmos métodos que ele permitira fossem usados durante o nazismo. O juiz presidente, interpretado por Spencer Tracy, interrompe o julgamento.
Quando este recomeça, pensamos que nada resta ao advogado fazer. É quando ele, premido pelas circunstâncias totalmente adversas, revela todo seu talento.Mudando totalmente sua argumentação, passa a sustentar, de forma magnífica, que a responsabilidade pelas atrocidades ocorridas não foi só de seu cliente, mas também de todo o povo alemão.
As atuações de Laughton e Maximilian mostram o altíssimo nível a que defensores podem chegar e os dois filmes devem ser vistos por todos os que amam o júri, a mais emocionante e democrática das instituições judiciárias.