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O CAOS PAULISTANO E BRASILEIRO

 

Roberto Delmanto

 

         Advogado Criminalista, há algum tempo não ia ao Centro de São Paulo, onde fica o Tribunal de Justiça. Meu escritório é no Jardim Paulista e a sustentações orais na Corte têm sido “online”.

         Acabei indo na semana passada. Meu choque foi enorme: prédios abandonados, lojas fechadas, calçadas esburacadas, pichações por todo o lado, muitas famílias dormindo ao relento ou em barracas improvisadas, e grande sujeira…

         Restam alguns poucos prédios incólumes como o da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e o do Teatro Municipal.

         Não dá para atribuir o lamentável estado do Centro paulistano só à epidemia que ainda persiste.

         Nossa enorme desigualdade social, maior problema brasileiro, o enorme desemprego e a falta de moradias são certamente os principais fatores.

         Enquanto não tivermos uma política social inclusiva a nível nacional, com corajosa redistribuição de renda, investimentos em educação, saúde, habitação e saneamento básico, além da isenção de impostos dos produtos da cesta básica, a realidade só tende a piorar.

         Há 80 anos, a Suécia, hoje um dos países mais justos socialmente e com melhor nível de vida do mundo, não era assim. Foi a taxação de grandes fortunas e dividendos, enormes investimentos sociais e em infraestrutura que a transformaram.

         Dir-se-á que se trata de uma nação com cerca de 11 milhões de habitantes, menos de um décimo da nossa, o que é verdade.

         Mas feitas as devidas adaptações, haveria muito a ser aproveitado na construção entre nós de uma verdadeira democracia social, com um sistema de saúde e educação gratuitos, menos milionários e menos pobres, sem miseráveis, e com uma classe média forte e predominante.

         Quanto às grandes cidades brasileiras, acredito que algo poderia ser feito de imediato. Nas capitais sul-americanas que conheço- Buenos Aires, Santiago do Chile e Lima- as periferias se deterioraram, mas o Centro foi preservado.

         Penso que em São Paulo, se tivéssemos a coragem de zerar impostos municipais por cerca de 25 ou 30 anos, haveria um incentivo para que empresas privadas se instalassem ou voltassem ao Centro, recuperando, em contrapartida, os prédios que viessem a ocupar e suas adjacências, a começar pelas calçadas.

         Enquanto essas transformações nacionais e locais não ocorrem, o caos paulistano e brasileiro, infelizmente, continuará se agravando…

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