O PARLAMENTARISMO NO BRASIL: PASSADO E FUTURO
(Roberto Delmanto)
Durante o Império, principalmente com D. Pedro II, o parlamentarismo funcionou bem no Brasil durante cerca de 40 anos.
O Imperador, como Chefe de Estado, exercia o chamado Poder Moderador, enquanto dois partidos, o Conservador e o Liberal, se alternavam no governo.
Com o alto prestígio de que dispunha, D. Pedro II acabava sendo o fiel da balança. Quando as finanças estavam deficitárias, ele, sutilmente, dava apoio ao Partido Conservador que, eleito, punha ordem na casa. Saneadas as contas públicas, com o país precisando de investimentos, mostrava-se mais simpático ao Partido Liberal, que vencia as eleições e realizava as obras necessárias.
Com o advento da República, inspirada no modelo norte-americano, instaurou-se entre nós o presidencialismo.
Desde 1891, ou seja, há 129 anos, esse sistema não tem produzido bons resultados. Entre crises e golpes, tentados ou consumados, e anistias, estamos sempre na busca de um “salvador da pátria”.
Para uns, seria Getúlio Vargas que, apesar de ter sido um dos líderes da democrática Revolução de 1930 e promulgado leis trabalhistas que até hoje perduram, foi ditador por 15 anos; para outros, Jânio Quadros, que se elegeu com o alegado propósito de combater a corrupção e, após nove meses de um medíocre governo, a todos desapontou com sua renúncia; para muitos, Lula, cujo primeiro mandato foi por todos aplaudido; atualmente, Jair Bolsonaro, chamado por seus apoiadores de mito.
A ascensão de um governo de extrema-direita, seguido da verborragia e até de gestos obscenos do Presidente e de seu filho deputado federal, têm provocado sucessivos conflitos com instituições democráticas como a Imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil e o próprio Supremo Tribunal Federal. Triste e emblemático foi o desrespeito presidencial à conceituada jornalista Patrícia Campos Mello.
Duas instituições, todavia, vêm impondo limites aos excessos do Governo Federal.
A primeira é o Supremo Tribunal Federal. Pode-se apreciar um Ministro mais do que outro, ou não gostar de vários deles. Porém, o Supremo, independentemente de sua composição, tem sabido barrar leis inconstitucionais, fazendo prevalecer a Constituição Federal, da qual é o guardião maior.
A segunda instituição, tão desprestigiada, mas que vem renascendo das cinzas, funcionando como um dique aos abusos governamentais, aperfeiçoando projetos do Executivo como a Reforma da Previdência e cortando pelo menos parte dos inúmeros excessos do Projeto Anticrime do Ministro Moro, é o Parlamento.
Ele tem se tornado um verdadeiro poder moderador, havendo quem fale que já vivemos em um “parlamentarismo branco”, ou seja, não oficial.
Durante a República, devido a um acordo entre as Forças Armadas e o Vice-Presidente de Jânio, João Goulart, para que ele, tido como esquerdista, pudesse assumir, tivemos por pouco tempo um arremedo de regime parlamentar.
Talvez seja este o momento de voltarmos a pensar em um autêntico parlamentarismo. Inspirado naquele que tivemos no Império, com as imprescindíveis atualizações que hoje norteiam a maioria dos países democráticos.
Dando, quem sabe, uma nova chance à nossa ainda jovem Democracia e renovando nossas esperanças em um país socialmente menos injusto, mais próspero, mais ético, menos corrupto, sempre livre e, certamente, mais feliz.