HOMENS QUE SE TORNAM HERÓIS
PRIMEIRA PARTE
Roberto Delmanto
De tempos em tempos, durante épocas difíceis, homens comuns ou mesmo
sem caráter, por força do destino, acabam se tornando heróis.
Muitos deles estiverem presentes na 2ª Guerra Mundial, no combate ao
fascismo e ao nazismo, sendo retratados no cinema. Mesmo quando ficção,
foram em geral inspirados em fatos reais.
No regime de Mussolini, um dos heróis da resistência era o Generale Della
Rovere.
Os “camisas negras” encontram um estelionatário e golpista contumaz que
era um perfeito sósia do Generale.
Prometem perdoar seus crimes para que se passe pelo verdadeiro Generale.
O objetivo era infiltrá-lo como um falso prisioneiro na cadeia romana em
que se encontravam os principais líderes“partegiani”, a fim de espioná-los e
saber dos seus planos.
No filme que narra essa história- “De Crápula a Herói” – o escroque é
interpretado pelo genialVittorio De Sica, que aceita a incumbência e entra
no presídio.
Está disposto, como combinado, a ser um espião.
Só que, aos poucos, vai se emocionando com a devoção que os detentos
tinham ao Generale, acaba por se contagiar e resolve, rompendo o acordo,
dar informações falsas aos fascitas.
Descoberto, a direção do presídio o desmascara, dizendo aos demais presos
que ele era apenasum sósia do Generale.
É aí que, em histórica cena, ele, grita paratodos ouvirem: “Io sono il
Generale Della Rovare”. Os prisioneiros acreditam e, com seus ideais
democráticos renovados, vão ao êxtase.
Logo em seguida, é fuzilado.
O segundo filme- “O Segredo de SantaVitória” – também se passa na
Itália durante a 2ª Guerra.
O personagem principal, magistralmenteinterpretado por Anthony Quinn,
sob a direção do grande Stanley Kramer, é Bombolini, um misto de
bêbado e palhaço que tem uma venda de vinhos com a mulher.
A película se passa no pequeno “paese” de Santa Vitória, famoso pela
qualidade de suas parreiras, e começa com a notícia da queda de
Mussolini.
Bombolini, que no início do fascismo, acreditando nas promessas feitas
como a maioria dos habitantes, escrevera no alto da torre da caixa d’água
da cidade o lema fascista “Il Duce nonsbaglia” (O Chefe não erra),
embriagado, sobe até ela, com o auxílio de um jovem consegue apagar a
inscrição, e desce são e salvo.
A população, a princípio incrédula com a derrubada de Mussolini, o
aplaude, afasta os dirigentes fascistas do “paese” e o nomeia prefeito.
O exército alemão, todavia, continuava na Itália e vem a notícia de que
chegará à cidade em poucos dias.
Sua única riqueza era cerca de um milhão e meio de garrafas que se
encontravam na adega municipal, para serem vendidos à conhecida
Cia. Cinzano. Certos de que os alemães iriam se apropriar delas, os
moradores, em espetacular cena da qual todosos habitantes da
cidade participam como extras, as escondem nos túneis de
uma gruta romana, selando-os com tijolos. Deixam, entretanto, de fora
trezentos mil litros para enganarem os germânicos.
O capitão tedesco desconfia que há mais vinho e passa a pressionar
Bombolini, inclusive o ameaçando de morte em praça pública, mas ele
insiste só existirem trezentos mil litros.
O capitão, impressionado com sua coragem, acaba desistindo da execução,
e Bombolini, na frente da população, o presenteia com uma garrafa de
safra especial amarrada com uma fita nas cores da Itália.
O capitão sabe que foi enganado e, ironicamente, pergunta a Bombolini
se ela não vai fazer falta ao “paese”, ao que este, com maior ironia, lhe
sussurra: “temos mais um milhão…”