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O JUIZ E OS ESPÍRITOS

 

Roberto Delmanto

 

Desde a Faculdade de Direito, que cursou brilhantemente, seu sonho era ser juiz.

Depois de formado, como não se abrissem vagas para a magistratura em seu Estado, acabou prestando concurso para delegado de polícia.

Passou com uma das melhores notas, e já a partir da primeira Delegacia para a qual foi designado, procurou exercer suas funções com a maior dignidade e eficiência, não compactuando com atos violentos ou condutas desonestas.

Mas seu sonho persistia e, no primeiro concurso que abriu para o Judiciário, inscreveu-se, tendo obtido a maior pontuação.

Em virtude dela, foi nomeado juiz de uma pequena, mas boa comarca.

Entusiasmado, desde o início atuou com todo empenho e dedicação.

Chegava logo cedo ao Fórum, presidia as audiências com isenção e imparcialidade, tratando de igual modo as partes e respeitando tanto o promotor como os advogados. Seus despachos e sentenças eram bem fundamentados, com cuidadosa análise das provas e citaçãodas melhores doutrina e jurisprudência.

Na área criminal, pela qual tinha clara preferência, buscava ser justo e humano, só condenando um acusado quando os elementos probatórios coligidos em juízo lhe dessem absoluta certeza da sua culpabilidade.

Era ainda moderado e equilibrado na fixação das penas e ao estabelecer o regime inicial para cumprimento das privativas de liberdade.

Promovido para uma comarca maior, começou a não dormir bem.

Sonhava com espíritos de condenados que vinham lhe perturbar, dizendo-se inocentes ou relatando carmas que tinham herdado de vidas passadas. Nas vésperas de proferir suas decisões, outros apareciam em grupos, uns argumentando em favor do réu, outros a favor da vítima, tentando enfaticamente lhe convencer.

Com o tempo os pesadelos se agravaram. Tentou passar a dormir em uma cidade vizinha, mas não adiantou, começando a recear pela sua saúde psíquica.

Renunciou, então, à promissora carreira e, logo que aberto um concurso para a polícia civil, se inscreveu, logrando ser aprovado em segundo lugar.

Voltou a ser delegado, sendo designado para um município de porte médio, dada a sua experiência anterior.

Manteve a mesma postura do passado, não aceitando violências ou desonestidade, sem nunca esquecer o lado humano.

Não era sua verdadeira vocação, mas os pesadelos, como que por milagre, cessaram, nunca mais retornando.

Descobriu que era médium. Estudou a fundo a doutrina kardecista, escreveu um livro, passou a dar palestras e, principalmente, a fazer muita caridade.

Como disse em mensagem um grande cardiologista espírita do Rio Grande do Sul, além do corpo físico, emocional e mental, somos todos aprendizes da manifestação da alma…

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