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Crítica – Nove tiros em Chef Lidu

Livros

Paula Bajer Fernandes

Paula Bajer Fernandes, em sequência a outros dois (asfalto e viagem sentimental ao Japão) lança “Nove Tiros em Chef Lidu”. Tais livros foram antecedidos por prêmios literários, destacando-se “A Professora de Declamação”, melhor conto no prêmio Sindi-Clube de poesia conto e crônica em São Paulo em 2012. Paula Bajer é, portanto, escritora amadurecida e insistente, sabendo-se que muitas vezes a arte de escrever se transforma em coisa compulsiva. É assim que funciona. Agora, com “Nove Tiros em Chef Lidu”, a escritora recebe a apresentação de João Anzanello Carrascoza, cuja notoriedade é muito bem assentada. Ele diz: “Esta apresentação, redigida por mim, João Anzanello Carrascoza, tem um só objetivo: incentivar você, leitor, a saltar logo para as páginas de “Nove Tiros em Chef Lidu”, romance policial de Paula Bajer Fernandes. Uma obra que tem tudo para magnetizar a imaginação de quem gosta de tramas engenhosas, mas que, dispensando os cenários exóticos – o desfecho todavia será em Paris –, emergem do cotidiano de cidades como São Paulo. E nada deixam a desejar aos clássicos do gênero, ainda que não sigam a sua receita. Sim, a história relatada por Elvis Prado Lopes, auxiliar do Dr. Magreza, delegado que conduz a investigação sobre o assassinato do dono da Brasserie Lidu, plasma às avessas o estilo detetivesco. Elvis é escrivão, mas ao contrário do hermetismo dos inquéritos, seu relato é direto, límpido, com diálogos coloquiais, e o romance é a “sua” versão, não oficial (mas depois aceita?), da história. Oposto a Bartleby, o escrivão de Melville e sua inércia (“acho melhor não”), Elvis não se contenta com as diligências do Dr. Magreza e sai em ação, por conta própria, para descobrir quem matou Chef Lidu. Aliás, Elvis se vale de muitos parênteses (pistas falsas?), revelando uma voz que o tempo inteiro ironiza e homenageia o cânone do gênero. Assim, todos os personagens relevantes são suspeitos: Darlene, a mulher de Lidu (com ciúmes de Monalisa, nova funcionária da brasserie), Monalisa (de olho na posição da outra?), Ronald, namorado de Monalisa (será que ela é amante de Lidu?) e até mesmo o Dr. Magreza (que, na juventude, teve um caso com Darlene). Enfim, eis uma teia de relações que faz a narrativa avançar em vertigem, com referências explícitas e veladas aos heróis noir, levando o leitor a rir e a desconfiar de tudo e de todos. “Nove Tiros em Chef Lidu”, de Paula Bajer Fernandes: romance policial que vai garfar a sua atenção da primeira à última página. Digo e dou fé”.

“Nove Tiros em Chef Lidu” é livro policial, tem sangue sim, mas diluído em bom humor, coisa rara. Tem segredos e mistérios, porque história de polícia sem mistério é como todo mundo saber, já de início, que “Conceição desceu o morro e vai se transformar em duquesa de bordel”. Só se deve saber dos estranhos caminhos pisados pela favelada quando chegado o fim da canção.

“Nove tiros em Chef Lidu” é forma suave de lidar com a “bruxa”. Para que não sabe – e todos sabem- a bruxa é a morte. Inexorável sempre, rejeitada também, mas, às vezes, até sedutora. Isso vem no meio do texto. Ou não vem, mas o bom livro é aquele que diz sem dizer, estimulando a imaginação do leitor. A propósito, transcreva-se parte do texto: “Ela disse que em um enterro, as pessoas mostram-se discretas e procuram não dar risadas perto da família do falecido, exigência comportamental difícil de ser cumprida. As pessoas.imaginam como seria seu próprio enterro ou o enterro de uma pessoa querida, ficam nervosas e dão risada para disfarçar” (pag. 89). O escriba tinha um preceptor que sabia tudo sobre o direito, o bom e o ruim, e não podia ir a um enterro. Gargalhava compulsivamente.

Vale a pena a leitura. A obra, aliás, está também em formato “ePub” (formato digital – Disponível para ler em Android, Desktop, Ereader, IOS, Windows).

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