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Flávio Gikovate Morreu

Sou, aos 80 anos, contínuo leitor das obras de Sigmund Freud, Jung, Lacan e outros psiquiatras que deixaram bom nome na exploração das aptidões, regulagens e desvios do cérebro humano. Tocante a Freud, li-lhe a vida na respeitabilíssima biografia escrita por Peter Gay, quem sabe a única posta no mundo com relato confiável  do grande psiquiatra morto em Londres nos idos de 1950, após ser consultado, inclusive, por dadaistas, sensacionalistas e outros, vindos principalmente de Paris, pintores estes tornados célebres na passagem dos séculos, sem exceção de Salvador Dali e Picasso. Viu-se então, em Freud, a ligação íntima entre as artes e psiquiatria, tudo enovelado no Brasil por Flávio Gikovate. Conversamos algumas vezes sempre sem plano muito objetivo, sem intenção qualquer de penetrar um na alma do outro. Li 3 livros de sua produção literária, correndo a notícia de que vendera mais de milhão de exemplares. Gikovate foi excelente psiquiatra, não se contentando a produzir nas estreitezas da psicologia. Foi além, muito adiante, participou de programas de televisão, agindo, inclusive, em uma novela, como ator, representando ele próprio. Teve a oportunidade de participar de programas radiofônicos, correndo as entrevistas pelo Brasil inteiro. Flávio Gikovate, com certeza, era um pluriapto, viciado na crença de que o ser humano pode fazer muitas coisas diferentes, à maneira de um Leonardo da Vinci, pintor extremado, conhecedor da espécie humana e escultor qualificado, além de produzir obras de engenharia e mecânica que antecipavam o futuro. Flávio Gikovate era assim. Lidava com o todo, sendo consultado por gente muito famosa. Foi escolhido pelo destino para morrer em 13 de outubro vertente, após enfermidade que o sugou para um lugar que sempre há de apavorar,  no mundo terrestre, os sobreviventes. É bom dizer que os idos, espiritualmente, não se vão, porque deixam aqui a esperança das soluções e ideários vertidos na experiência transmitida aos outros. No fim de tudo, Flávio Gikovate foi um excelente médico psicanalista, um ator de novelas, um destacado conhecedor da alma humana e notável escritor. Há de ser lembrado por muitos remanescentes, participando da dificílima arte de perscrutação da alma das gentes tratadas em seu consultório. Em suma, um bom homem. Ficamos tristes. É o que podemos fazer, oferecendo nosso choro como um preito de gratidão à família.

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