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UM CHAVISMO À BRASILEIRA

Roberto Delmanto

Como o “chavismo”, instituído por Hugo Chávez, se perpetua até hoje com Nicolás Maduro?

A fórmula é bastante clara: convocação de militares, da ativa e da reserva, para ocupar cargos importantes no governo e medidas populares como ter uma das gasolinas mais baratas do mundo.

Por outro lado, o enfrentamento do Judiciário, com a substituição de Ministros do Supremo garantistas por “chavistas”, e o desempoderamento do Legislativo, através da eleição de uma Assembleia Constituinte paralela, cujos candidatos, para terem sua inscrição aprovada, passaram por um “filtro” governamental, e que é agora quem manda no âmbito parlamentar.

Por fim, o incentivo à criação de milícias, que passaram a ser um braço armado e violento do governo.

Uma das primeiras mudanças da política externa brasileira após a posse de Bolsonaro foi aliar-se incondicionalmente aos Estados Unidos e eleger como inimigo principal o governo venezuelano.

O Brasil foi um dos primeiros a reconhecer Juan Guaidó como presidente, atualmente um tanto desmoralizado pelo seu aparente conluio com mercenários que foram presos, objetivando o sequestro de Maduro.

Paradoxalmente, nosso país caminha a passos largos para a instauração entre nós de um “chavismo à brasileira”, de direita.

Assim, ataca-se figuras importantes do Legislativo e confronta-se, propositalmente, a cúpula do Poder Judiciário.

Com “fakenews”, difamações e ameaças ao Supremo, cria-se um falso conflito, tentando jogar a população contra ele.
Esses graves crimes são objeto de um inquérito no STF, que busca identificar seus autores e financiadores, bem como de uma CPI na Câmara dos Deputados.

Permite-se a criação de verdadeiras milícias, entre elas grupos confessadamente armados, que, ante a conivência estatal, tornam-se cada dia mais agressivos.

De outra parte, procura-se o apoio popular, através da defesa do retorno imediato das atividades econômicas no pico da pandemia da Covid 19.

Ou do uso “milagroso” da cloroquina, curiosamente só adotada pelos Estados Unidos e …. pela Venezuela, apesar de cientificamente reprovada por seus efeitos colaterais, inclusive ataques cardíacos letais.

Nós não somos, entretanto, como o país vizinho, uma república “bolivariana”, mas sim uma República Federativa, mesmo porque o Libertador SimónBolivar jamais esteve nestas plagas…

O planejado confrontamento com o Supremo torna-se cada vez mais acintoso, a ponto do Deputado Federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, dizer em uma emissora de televisão que não se discute mais nos círculos palacianos “se” haverá uma ruptura constitucional, mas “quando” ela se dará.

As Forças Armadas serão o fiel da balança, ou seja, saberemos se elas continuarão na defesa da Constituição, como vêm fazendo impecavelmente desde a redemocratização do país, ou se, ao contrário, se aventurarão em um “auto-golpe” de características chavistas.

Os setores democráticos, antevendo o perigo iminente, já estão se posicionando em defesa da democracia.

Alguns, entretanto, de boa-fé e não olhando para nossa história recente, perdem-se em filigranas jurídicas para contestar a validade do inquérito do STF e as inadiáveis medidas determinadas por seus Ministros.

Outros, felizmente poucos, não assinam os manifestos democráticos por não conseguirem superar antigas desavenças partidárias.

Não percebem que o Supremo é “a bola da vez” e que, se ele cair ou for desnaturado, a próxima será a nossa democracia.

Se a força triunfar sobre o direito, só nos restará reagir pacificamente, seguindo o exemplo maior deixado por Gandhi, jamais com violência que ele tanto repudiava…

 

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