A HONRA E OS HONORÁRIOS
Roberto Delmanto
O empresário, primo de uma antiga amiga, era dono de uma das maiores agências de turismo do país.
De origem modesta, começara quase do nada; mercê de sua inteligência, criatividade e ousadia, em alguns anos tornara-se “dono”de importante fatia daquele mercado.
Elegera-se diretor da associação de classe com aprovação quase unânime de seus pares.
Após inovadora gestão, cheia de realizações, decidira tentar reeleger-se. A oposição a essa sua pretensão era, todavia, grande.
Certa noite, telefonou para minha casa muito aflito. Seus opositores haviam distribuído uma “carta-aberta” a todos os agentes de viagem com graves ofensas à sua honra. Pedia a minha assistência. Disse-me que, de tão abalado, não tinha sequer condições de ir ao meu escritório, solicitando-me que fosse à sua agência.
Em atenção à sua prima, que também me telefonara, fui na manhã seguinte à sua empresa, no Centro Novo de São Paulo.
O luxo e o requinte das instalações impressionaram-me. Houve um detalhe curioso: embora lá fora o sol estivesse a pino, ele atendeu-me em sua imensa sala com todas as cortinas fechadas e luz artificial. Senti-me, por instantes, como se estivesse em uma reunião com um chefe mafioso…
Pude, então, ler a tal “carta-aberta”. Desde logo conclui que as ofensas eram gravíssimas, configurando, sem dúvida, todas as três modalidades de crimes contra a honra do Código Penal: calúnia, difamação e injúria.
Manifestei-lhe minha opinião de que ele, devido ao seu prestígio e liderança na classe, não podia deixar de processar os seus detratores. O empresário ficou muito feliz, pedindo-me que intentasse, com urgência, queixa-crime contra os mesmos.
Ia se despedindo de mim, para atender uma ligação internacional, sem falar de honorários. Eu disse-lhe que era importante tocarmos nesse assunto e, havendo concordância, firmarmos um contrato.