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O FALSÁRIO

Roberto Delmanto

O jovem bancário trabalhava há cerca de três anos na controladoria de um grande banco. De uma hora para outra, foi acusado de ter sido o autor de um considerável desfalque. Ele negava com veemência a acusação e meu pai Dante, a pedido de sua família, assumiu a defesa do mesmo.

A prova era eminentemente grafotécnica, pesando sobre o moço a suspeita de ter falsificado, com sua letra, inúmeros documentos internos. A perícia inicial o apontou como o autor das falsificações e ele foi denunciado em uma das Varas Criminais de São Paulo.

Durante a instrução do processo, a pedido da defesa que foi deferido pelo Juiz, a Polícia Técnica realizou uma perícia complementar, concluindo não haver certeza se o jovem era, realmente, o responsável pelas adulterações. Ao fazer essa nova perícia, os peritos, que haviam colhido farto material de próprio punho do bancário, ficaram, todavia, surpresos com o alto grau de capacidade gráfica dele e com a enorme possibilidade de variações da sua escrita, tendo deixado esse fato consignado em seu laudo.

Ao final do processo, o próprio Promotor pediu a sua absolvição.

O Magistrado, após absolvê-lo, curioso em saber se o acusado tinha realmente tanta habilidade gráfica, solicitou-lhe que, informalmente – pois, a final, já fora absolvido – imitasse a sua assinatura, que era absolutamente ilegível e impossível de ser copiada.

O rapaz aceitou o desafio e o Juiz, após assinar algumas vezes em locais diferentes de uma folha em branco, entregou-a ao bancário para que reproduzisse sua firma. Este assinou várias vezes com a mesma caneta, em diversos lugares, e devolveu a folha ao Magistrado, que, estupefato, não conseguiu reconhecer quais eram as suas próprias assinaturas. Recomendou, então, ao moço que tivesse juízo e procurasse usar para o bem esse grande talento que Deus lhe dera.

Algum tempo depois, o rapaz voltou a envolver-se em outro processo, também por falsificação.

Procurado para defendê-lo novamente, meu pai, que não costumava defender um acusado mais de uma vez – para que a absolvição não lhe servisse de estímulo para delinquir ou voltar a delinquir, como dizia – recusou o patrocínio da causa.

Mas não pôde deixar de acompanhar, pelo noticiário policial, a “carreira” do ex-cliente.

Tornou-se, com o passar do tempo, um dos maiores falsários do País, deu vultosos “golpes” em inúmeras pessoas e instituições, mas em compensação passou boa parte de sua vida “atrás das grades”…

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