Entre Elizabeth II*, a Pianista Centenária**, o Príncipe Edward, o Covid (o bicho) e o Escriba

Ou

Tudo depende da carta recebida no baralho da vida


***Leite Fernandes com Evandro Lins e Silva

 

** Colette Maze, aos 107 anos de idade – remessa de Roberto Delmanto

Este vetusto criminalista foi conhecido de Nelson Hoffbauer Hungria, dos maiores penalistas que o Brasil já teve. Hungria já era bem antigo. Paulo Sérgio era um noviço. O velho gostou dele e chegaram a trocar algumas palavras. A seguir, Hungria se foi. Adiante, Manoel Pedro Pimentel se deu muito bem com este Leite Fernandes. Uma criatura maravilhosa, pai do “Meco”, andando pela velha Faculdade de Direito do Lago São Francisco, um acompanhando a Babette, penalista diferenciada que fazia o pós-graduação. Sem medo algum de errar ou de ser artificioso, este marinheiro de águas bravias foi muito ligado a Ricardo Antunes Andreucci, pai da Marta e avô do Lucas, o mesmo Ricardo, amicíssimo colhido igualmente no jogo por uma carta marcada. Leite Fernandes, durante anos, almoçou uma vez por mês com Celso Delmanto, no Itamarati, conversas cumpridas com boas lembranças. Foi amigo de Carlos Araújo Lima e de outros muitos, cada qual com suas particularidades, rebrilhando gostosamente no panorama jurídico nacional. Este escriba foi o braço direito de Cid Vieira de Souza, para quem fazia os discursos mais perigosos durante a ditadura. Entre estes, a frase famosa dita por Cid numa abertura do Ano Judiciário, no período mais escuro da insurreição antidemocrática que o país teve: “-Naquela sala no sexto andar, ouço bater todos os dias, às doze e dezoito horas, o carrilhão da Sé. E o leve som desafinado de um só sino me lembra, todos os dias, às doze e dezoito horas, o tempo faltante para a redemocratização do meu país”. Cid não havia lido o discurso antes. Deu uma gaguejadinha no começo, provavelmente xingando o Paulo Sérgio intimamente, mas disse com muita firmeza. Nós precisamos escondê-lo depois por uns dias, pois o DOI-COD andava atrás dele. Arranjou-se a coisa, à frente. Este canhestro criminalista foi amigo, sim, de Evandro Lins e Silva*** e de Evaristo de Moraes Filho****, mais de Técio Lins e Silva, este último muito vivo ainda, e bastante, pontificando na especialidade no Rio de Janeiro. O cronista e Roberto Delmanto, mais Robertinho Delmanto e Fábio Delmanto, têm conversado bastante, não sobre direito penal e processo penal, embora já pronta a edição atualizada da obra que constitui o galardão da especialidade no Brasil. É que, durante a maldita peste a nos adoecer, as emoções e os sentidos nos conduzem a vivências muito sensíveis, nós que, no fim das contas, somos “quixotes”, nunca assemelhados a um “Sancho Pança”. Daí, mesmo não perdendo de vista a ciência do Direito, nós, os sobreviventes, buscamos suavizar os toques das nossas mãos e dedos, preferindo, quiçá, a canção romântica aos rumores surdos dos podres presídios nacionais, embora aquilo tudo continue transformando nosso sonho em pesadelos. A sobrevivência, aqui, funciona como uma espécie de destinação das recordações daqueles que se foram, um pouco de culpa, é bem verdade, misturada na vontade de manter aqueles todos conosco. Funciona assim. Existe uma obra famosa, escrita por Nietzsche, chamada “Assim Falou Zaratustra”. Sem perda de originalidade e com a adequada modéstia, o escriba modifica o título. Fica: “Assim Falou Joseph, o Cigano”. E la nave va. Aguardem.

 

*A Rainha está com o bicho

** Colette Maze, aos 107 anos de idade – remessa de Roberto Delmanto

***Leite Fernandes com Evandro Lins e Silva

****são dois os juristas: o Evaristo a que Leite Fernandes se refere é o criminalista, apelidado “o negro”, também muito ligado, ao tempo.

 

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