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Fukushima – Tragédias esquecidas

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Fukushima
Tragédias esquecidas
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O ser humano tem uma enorme capacidade de sublimar fatos tristes. Pode-se apostar que em Pompeia, após o vômito negro expelido pelo Vesúvio, os sobreviventes não demoraram muito para esquecer e retomar suas vidas normais, fiados no fato de aquela protuberância efervescente não ser muito insistente na revitalização. O vulcão Vesúvio é um fato da natureza, mas as usinas atômicas não o são. O homem as produz obstinadamente, esquecido de Chernobyl, dos outros desastres atômicos e, agora, de Fukushima, embora aquilo ainda esteja sangrando veneno pelos escombros. Perceba-se que poucos jornais, hoje, teimam em recordar o drama japonês, analogamente à tragédia marítima representada pelo vazamento do veneno negro ainda poluindo o Golfo do México. Paradoxalmente, são coisas do presente, mas não lembradas com afinco.

Surge nos jornais, hoje, 31 de maio de 2011, a notícia de que a Alemanha, até 2022, terá substituído a energia atômica por outra menos agressiva e menos surpreendente na capacidade mortífera. Bons ventos, com certeza, bafejaram sobre as cabeças germânicas. Enquanto o Japão ainda lida com os bafejos venenosos de Fukushima, o Brasil continua atento ao término da Usina Atômica de Angra III. Parece que o assunto, aqui, é proibido. O povão morando naquela paradisíaca região não passa perto, porque não pode, mas também não liga. Cultiva suas rosas, flores outras e seus jardins. Faz filhos, vai ao cinema, frequenta o mar e, de longe, vê aqueles monstros construídos nas encostas. Aquilo não é como o Vesúvio, que fica morgando muitos e muitos anos. Por outro lado, a lava vulcânica tem começo, meio e fim. O veneno atômico tem uns dez mil anos de vida útil. Quem se importa?

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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