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Klute

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Klute***

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“Klute” é a história contada em filme estrelado por Jane Fonda. Era perseguida por uma sombra do passado. Vem a propósito a imagem quando se pensa nas consequências do período em que o Brasil esteve imerso no autoritarismo. O começo, nos idos de 1964, até parecia bom. O país precisava de recomposição ética. A justiça, aviltada, via os fóruns invadidos por trabalhadores pertencentes a múltiplos sindicatos e organizações do tipo. Depois veio a acentuação do poder, com militares das três armas, principalmente do exército e da aeronáutica, partindo para excessos que fizeram, inclusive, as classes liberais mudarem de lado. Morreu gente no caminho, alguns defuntos descobertos e outros sumidos, com relevo para Rubens Paiva, seguramente dado aos peixes. O cronista desenhou o episódio no livro “Fabulações de um velho criminalista”.

O Ministério Público Federal pretende instaurar procedimentos aptos à descoberta do que teria acontecido a muitos dos desaparecidos. Haveria crime continuado e/ou permanente (sequestro, ocultação de cadáver, etc).

Há nisso uma dose qualquer de razoabilidade. É difícil esquecer as atrocidades do período. A tese é sofisticadíssima e advém, sobretudo, de procuradores jovens que, em 1° de abril de 1964, com certeza não haviam nascido. Move-os, assim, uma necessidade mística de punição de criaturas hoje fantasmagóricas, sabendo-se que os esbirros da década de 1970 já se foram, havendo, se houver, exceções raríssimas. Devem estar prestando contas a Deus, negado por José Saramago, enquanto o admitia dentro de si.

O Ministério Público Federal, no fim das contas, com ou sem sucesso, demonstra séria determinação de se reaprumar do passado distante. Ali, quem se punha contra o Estado era posto em disponibilidade ou excluído. Poucos o fizeram.

 

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e dois anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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