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O Procurador-Geral da República toma assento num braseiro

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
O Procurador-Geral da República toma assento num braseiro***

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Repercute na imprensa nacional, com relevo nas emissoras de televisão, problema impactante ligando interceptações telefônicas múltiplas feitas, por hipótese, em telefones de investigado por também hipotéticas condutas criminais, lá nos rincões de Goiás e adjacências. Segundo consta, escutas sigilosas feitas pela Polícia Federal teriam recortado conversas entre vários parlamentares e um dos investigados, sem que se saiba qual o teor dos diálogos postos há muito tempo nos escaninhos do Procurador-Geral da República.

O “grande acusador”, agora, cumpre suas atribuições primeiras, usando, é certo, gravações, ditas interceptações telefônicas, feitas pela Polícia Federal após autorização judicial, não se sabendo quais e quantas seriam discutíveis. No meio de tudo isso, ou ao lado disso tudo, resta o Conselho Nacional do Ministério Público, presidido, é certo, pelo cultíssimo Procurador-Geral, acompanhando uns, absortos, a conduta do outro. Não se há de tecer comentários sobre a maior ou menor rapidez com que se estimula a investigação respeitante ao último grande “affair” criminal tramitando em Brasília. Basta esperar, tocante à opção probatória advinda do espiolhamento de conversas telefônicas havidas entre os investigados, que se trate com muito rigor a pretensa valorização de tal prova. Na verdade, todos os empreendimentos geradores, de certo tempo a esta data, de escândalos ditos criminais envolvendo diferenciadas áreas da nação, têm surgido do beliscamento da privacidade dos cidadãos. É estranho, mas na chamada luta do bem contra o mal, os arautos da imaculabilidade se introduzem no espúrio território da interceptação telefônica e ambiental, fazendo as vezes do “voyeur” escondido atrás dos reposteiros da alcova das madames. Em sentido ético, ou daquele denominado “pudor dominical”, não se cuida de coisa bonita, a exemplo da autorização a que policiais se transformem, bem travestidos, em traficantes de entorpecentes. Resta, no fim, uma indagação filosófica a ser debatida, no fim de tarde, no bar da esquina: “– Pode o mocinho, na luta contra o bandido, praticar a mesma bandidagem?”. Alguns dizem que sim. Deus perdoa. O corpo de delito, este, vai às tintas.

 

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e dois anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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