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A todos os advogados do “Mensalão”

Paulo Sérgio Leite Fernandes

Lucas Andreucci da Veiga

Existe em Londres casa de apostas onde se palpita, inclusive, sobre quando um possível herdeiro do trono inglês nasceria. Se o julgamento do “Mensalão” interessasse aos saxônicos, já haveria, quem sabe, uma seção aberta sobre o assunto. Cuida-se de saber, na verdade, quantos ministros admitirão os chamados embargos infringentes, tratando-se de assunto em ebulição porque, em tese, havendo quatro divergências, o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal poderia atuar. A particularidade já foi multiplamente defenestrada. Não vale a pena repeti-la. Num sentido bem trágico, poder-se-ia fazer de conta que o site se instalou ao lado do Big Ben, para o fim pretendido. Poderia ser um pub, mas bebidas alcoólicas, aqui, são proibidas. Dentro de tal contexto, o julgamento começa na parte da tarde, nunca num horário predeterminado, pois brasileiro é assim. Há as conversas de depois do almoço, o cafezinho sagrado, as disputas e recomendações habituais. Tratar com leveza de um assunto referente ao maior Tribunal da República poderia parecer insultuoso, mas eles não se importam. Assim seja. Tocante ao julgamento em si, não apostaríamos tudo, pois há risco de erro. Além disso, decisões condenatórias são horríveis. É cadeia. Certa vez, sessenta anos atrás, o subscritor mais antigo fugiu do quartel, numa belíssima noite de fim de ano. Levava um smoking na mochila. Parecia quimono velho, mas era veste de gala. O dono do brechó era japonês. A razão da fuga se chamava Neusa. Até hoje, parafraseando Vinícius de Moraes, o velho cronista sente o cheirinho dela, muito saudável e rescendendo levemente a água do mar. Aquilo valeu trinta dias de cadeia na caserna. E de smoking, porque era uma parte do castigo. Toda soldadesca queria ver o recruta “Leite 45”, sacrificado por uma paixão. Grade é um negócio terrível. A segregação física, tolhendo os movimentos do condenado, não deveria existir. Seria bom inventar outra coisa que punisse a mente sem destroçar o corpo. Daquela data a esta, há sessenta anos, o velho escriba não consegue gostar de milico. Dentro de tais arredondamentos, aquilo não é um espetáculo circense, ou disputa a saber quantos neurônios a mais tem o Presidente da Corte em relação ao desafeto (ou vice-versa). É, a consequência, uma relação de causalidade terrível. Neste site os escribas fazem uma jogada, bem antes do resultado, cerca de meio-dia desta quarta-feira, 11 de setembro de 2013. Os embargos hão de ser admitidos por maioria, sendo rejeitados também por maioria de votos. No mesmo diapasão, o Presidente da Corte mal espera a hora de dizer não ao problema introdutório. Celso de Mello admite o recurso. Marco Aurélio admite. Gilmar inadmite, acontecendo o mesmo a Cármen Lúcia, Luiz Fux e Rosa Weber*. Lewandovski admite. Toffoli admite. Teori admite. E Barroso completa o grupo. Por 6 a 5, portanto, o Regimento Interno do Supremo, tocante à particularidade, continua a viger. Os dois cronistas, respeitando os limites éticos atinentes aos criminalistas intervenientes, todos competentíssimos, dedicados e sempre vigilantes, mandam um abraço apertado a cada qual, unindo as becas negras numa só. Os excelentes litigantes recolhem as armas e voltam às casas, cientes de que não foi, realmente, o maior julgamento do Brasil. Foi o mais triste.

* Quanto a Rosa, apostamos errado.

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