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Feitiço contra feiticeira

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Feitiço contra feiticeira***

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         Depois de se queixar veementemente da espionagem praticada pelos Estados Unidos da América do Norte contra o Brasil, a presidente da República se encontra numa saia justa. Descobriu-se que a ABIN fez o mesmo em duas ou três embaixadas, praticando, em tese, a chamada interceptação ambiental e outras. A imprensa brasileira não perdoa. Pôs as coisas publicamente, para conhecimento de todos os interessados. No meio tempo, a Alemanha reclama contra a América do Norte. Há indícios de interceptação dos segredos de variados países com representação diplomática no Brasil e no fim das contas, embora rusticamente, usando quem sabe gravador de rolo, os “James Bond” nacionais admitem tais atividades, justificando-as nos interesses da pátria. Há, a bem dizer, uma espécie de empate. Se isto fosse uma batalha naval, haveria navios a vela combatendo modernos cruzadores mas, bem examinadas as posições, o componente não ético seria igual. A tendência, já agora, é haver uma paulatina desaceleração nas acusações, porque na reciprocidade de condutas imorais, as duas nações acabam se entendendo. Resta a certeza de ser o Brasil, para efeitos domésticos, o campeão de interceptação da intimidade do cidadão. A espionagem deixou de ser um movimento de apuração de ilicitudes e passou a compulsões de natureza psiquiátrica. Não se sabe como isso há de terminar, sabendo-se, entretanto, que o país, interna ou externamente, fica enlameado com o fenômeno obsessivo de perscrutação dos segredos alheios. A compulsão interceptatória transforma autoridades diversas em criaturas assemelhadas a tias solteironas que, não tendo mais o que fazer, encostam os ouvidos nas paredes das casas geminadas. É triste, mas a verdade é essa.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e quatro anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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