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O outro eu

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
O outro eu***

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A imprensa do mundo inteiro noticiou, dias atrás, ocorrência inusitada: um grande apresentador de TV britânico, cujas iniciais são J.S., falecido em 2011, tinha duas personalidades, uma famosa na televisão, outra secreta e ligada, inclusive, a necrofilia e pedofilia. Segundo investigações, a partir de 1962 o publicitário se comportava muito mal com crianças, havendo notícia de cerca de quinhentos casos extravagantes.

Vale a pena lembrar, apenas a titulo de comentário incidental, frase atribuída a Jorge Luis Borges: “O que acontecerá se eu tirar a máscara e despir minha fantasia?”. Quer isso dizer, quem sabe, que todo ser humano tem um retrato público e outro privado. Dir-se-ia a exibição de duas personalidades (v. confissões de uma ladra). É episódico, aliás, ver-se a edição de biografias de personagens celebres, apontando-se defeitos não explicitados em vida, ao lado de descrição de multiplas qualidades. Não há merecimento na citação ou individualização de nomes, mas grande número de biógrafos, hoje em dia, se compraz em evidenciar tais aspectos negativos da personalidade dessas criaturas.

Ao lado dessas demonstrações de atividades demeritórias de famosos já prestando contas no além, a psiquiatria moderna vem tentando perscrutar os mistérios da alma humana, na interligação entre o corpo e o sistema psíquico a regular os comportamentos, cuidando-se de tarefa dificílima. Desponta, entre os cientistas interessados no tema, a figura de António Damásio, notável pesquisador de nacionalidade portuguesa, neurologista dos maiores na especialidade. Damásio não foi, diga-se de passagem, o descobridor do chamado “Self”, traduzido imperfeitamente para “Si”. Entre outros livros, escreveu “O sentimento de Si”, tratando do corpo, da emoção e da neurobiologia da consciência. Cuida-se de abordagem extremamente intrigante, merecendo reflexão demorada. Entrelaça-se tudo, no fim das contas, a antigos criminólogos ainda pontificando, às vezes,  nas preleções de Direito Penal: Ferri, Lombroso e Garófalo. Tocante a Lombroso, embora ultrapassada a teoria concernente às interações entre tamanho do cérebro, configurações cranianas e outras particularidades, aquele cientista começa a readquirir uma certa forma de relevo na criminologia em geral. A revisão de seu trabalho é, agora, quase uma curiosidade, mas há quem pense seriamente nas preleções do célebre investigador. Ver-se-á. Ponto Final.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e quatro anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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