Wadih Aidar Tuma morreu

OU

O Amor nos Tempos do Cólera

                                                     

Recebemos em casa, pela internet, a notícia de que Wadih Aidar Tuma, Procurador do Estado aposentado, morreu há dois dias. Conhecemo-nos há muitos anos, cerca de trinta e poucos, amigos de família, sim, convivendo nos festejos de aniversário e casamento dos filhos. Maria Carolina, um deles, passou o recado triste. Martin, o outro, sofre ao lado. De repente, acontece. Fica pior neste terrível entremeio em que os abraços se fazem ao longe, olhando-se a cidadania com o recato recomendado pelas circunstâncias.  O comunicado chegou enquanto o escriba trazia no colo um álbum da vida de Gabriel Garcia Marquez, ponteando na capa o nome de uma de suas obras: “O Amor no tempo do Cólera.” O cérebro humano é uma caixa sofisticadíssima, embora se diga que, em termos computacionais, fica abaixo da capacitação de minhocas. De qualquer forma, entre outras minúcias, fazemos ligações imediatas com centenas de imagens, umas desencontradas, outras guardando consonância entre si.  Aconteceu isso, agora. A morte de Tuma é, com certeza, o despertar de um choque muito grande. Em outros termos, o velório dele traz reflexões sobre as manifestações de amor, carinho, afeto enfim, enquanto o bicho (o escriba chama aquilo de bicho) persegue incansavelmente o mundo inteiro, escolhendo aqui e ali, como pérfida loteria, o destinatário de suas incursões. Tuma viveu noventa anos, ao que o Paulo Sérgio sabe, idade aproximada da Dione e deste escrevinhador, mantendo-se atualmente no chamado “companheirismo virtual”, o mesmo ligando o Paulo Sérgio, Roberto Delmanto e outros mais.   A falação por vídeo não substitui o contato físico entre os seres humanos e mesmo entre os chamados animais inferiores.  A necessidade do achego vale, creia-se, inclusive para os contrários, ou seja, as inimizades, sabendo-se que atualmente os próprios ministros da Suprema Corte brasileira debatem seus temas com agressividade muito maior, embora devendo ser diferente.

          É esquisito, acredite-se, registrar assim a morte de um amigo. Mas faz parte do disfarçamento da tristeza, ou da reação de cada qual. Nisto, veja-se bem, a invocação de “O Amor no Tempo do Cólera” tem inteira procedência. Este velho rábula chorou não poder estar com a família de Wadih, enquanto recordava o muito vetusto Conselho da OAB paulista, éramos apenas dezoito, os dezoito do Forte Copacabana, resistindo contra a ditadura.  Não se consegue, no entremeio do desastre provocado pela pandemia, afrontar os ditames dos serviços de saúde, cientes os humanos de que o sal das lágrimas não constitui antídoto contra a bruxa. Foi assim no passado, é assim e será sempre assim, até na saudade e no destempero das emoções.

          Enquanto ligando Wadih e Garcia Marquez, este teimoso e ultrapassado advogado criminalista pranteava, igualmente, a morte de Pedro Gagliardi, o “Pedrinho”, desembargador muito ligado ao Paulo Sérgio, Pedro insistira  em que o escriba ingressasse numa entidade poderosa existente por aqui, não deu certo, aquilo era bom demais  para o parceiro repleto de defeitos pouco conhecidos da maioria… enfim, os velhos vão cedendo mais rapidamente à gula daquela harpia mefítica, basta ler os jornais, faltam os mendigos merecedores de noticiário igual, vão-se também, parecendo embora que a pobreza protege mais um pouco. Já se disse (alguém o disse) que se Nossa Senhora existisse mesmo, daria um jeito   de convencer o filho a inventar formas menos deselegantes de partir para os colóquios com o Padre Eterno…

          Wadih Aidar Tuma era religioso, como o escriba e Dione o são. Do nosso lado, católicos praticantes, frequentamos a igreja, hoje quase nunca, porque o “bicho” pode ter afeto especial pelo incenso em aspersão. Vamos chorar em casa, nosso lar também tem ares de meditação. Às vezes Dyonne e eu abrimos a bíblia, sem precisão qualquer, e lemos um texto em voz alta, relembrando os que se foram. Vamos fazer o mesmo para o bom confrade Wadih.  As Escrituras servem ao universo, estejam encostadas ou adiante, nos textos espíritas ou no Alcorão.  Não precisamos de tradutor.   Aqui, ali e acolá, os múltiplos se entendem. ´´É só esperar.  E La Nave Va.

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