Entre Einstein, o Papa Francisco, Leonardo da Vinci, Pôncio Pilatos, Biba e Barrabás, entre outros
Hoje é dia 31 de maio de 2024. São 10 horas e 40 minutos nesta São Paulo muito friorenta, constando, na noitinha de ontem, uma temperatura ponteando os 13 graus, lá fora das janelas. Os jovens não se preocupam muito com tais episódios, porque a musculatura e os ossos em geral aguentam bem os caprichos climáticos que o mundo vem atravessando. Entre nós, os chamados antigos, é diferente, porque, entremeados noutros fenômenos, a artrite costuma lamber as entranhas dos viventes, obrigando-os a vestimentas pesadas. Tais reflexões, inclusive, influem na própria capacitação cerebral dos chamados jornalistas, ou intelectuais de diversas estirpes, sabendo-se, por exemplo, que Einstein, violinista passável, tinha dificuldades em tocar durante temperaturas baixas nas cercanias. Parava muitas vezes para esquentar os dedos na lareira, repensando auxilio dado a um ex-nazista interessado na energia atômica. Este velho rábula ainda lê bastante, procurando ingenuamente acompanhar personalidades que mais influenciaram a raça humana, não muitas, é claro, mas algumas especialmente atrativas na medida em que eram as chamadas “polímatas”, personagens dedicadas a atividades diversas.
O cérebro humano é, todos sabem, um computador maravilhoso, contendo alguns bilhões de atalhos multifásicos. Aquilo, nesta manhãzinha paulista úmida, mistura tudo na profusão de idéias surgindo aos poucos, enquanto o envoltório corporal começa a lutar contra a falta de sol. Veja-se bem: o raciocínio é estimulado pelos acontecimentos mais recentes e pelas expectativas do que pode vir a suceder nas lonjuras e nas proximidades. A cadela de estimação traz na boca, para o dono, o jornal “O Estado de São Paulo”, o matutino preferido. O escriba, absorto, tem sempre ao lado uma tesoura com que recorta os noticiários mais importantes. Este rábula, semanas passadas, recortou um ou outro noticiário correspondendo a assuntos que, lá atrás, não venciam os censores do “Estadão”. Recorda-se agora, por exemplo, de reportagens avantajadas sobre o orgasmo feminino, com duas fotos de psicólogas jovens e sorridentes, discutindo aspectos, por exemplo, ligados a crença entre médicos e sacerdotes no século XVI, no sentido de que tal acidente corporal era importante à gestação. (foto abaixo). Tais comentários seriam inaceitáveis antigamente, exceção feita, é claro, àquelas produções ditas pornográficas conduzidas sorrateiramente aqui e ali. Um progresso, é óbvio, pois o diário “Estadão” é tradicionalmente conhecido como órgão conservador.*
Este vetusto escrevinhador justifica, agora, afirmativa posta em parágrafo anterior referentemente ao cérebro humano (cerca de 86 bilhões de neurônios). De raciocínio em raciocínio, chega-se ao miolo da crônica, correspondendo ao dia 02 de junho, domingo, reservado, na Avenida Paulista à Parada Gay (hoje LGBTQQICAAPF2K+). Cuida-se de tema solidamente relevante, na medida em que diz respeito a princípios insertos na Constituição Nacional (art. 226), hodiernamente interpretado pelo Supremo Tribunal Federal com liberalidade, haja vista o enfrentamento honradamente assumido pela Jurisprudência da Suprema Corte. Perceba-se, portanto, que o dia 02 de junho vai encontrar a Avenida Paulista, segundo se espera, repleta de manifestantes, alegres sim, decididos também, robustecendo cada vez mais as posições exigindo respeito à modernidade. A data, coincidente ou não, é dois dias após a manifestação positivadora do “Corpus Christi”, solenidade esta engrossada, também, pela chamada “Marcha para Jesus” notando-se, na última, o comparecimento de membros importantes da política nacional. Dentro do contexto, as escrituras “pululam”, sobressaindo os Livros Levítico, Romanos e Coríntios. No fim das contas, um turbilhonamento plúrimo de ideários político-religiosos significativos de um bailado panteísta. Cada manifestante, e mesmo eventuais críticos, acompanham o todo, uns entranhados no movimento, outros remotamente atentos, mas não se pode negar, no entremeio, a presença da cruz de Cristo, torturado pela soldadesca romana após execração advinda de Pôncio Pilatos: “- Ele ou Barrabás?”. O populacho respondeu: “– Solte Barrabás”. E Jesus Cristo, segundo a crônica duas vezes milenar, ressuscitou no 3º dia. Alguém indagou: “- Tu és Deus? Dizem que Jesus respondeu: “- Tu o disseste. Eu o sou!…”
Indagar-se-á qual a relação entre a crônica em si e os subtítulos encimando o texto. Num certo sentido o tema é estressante, porque envolve multidão de pessoas na pluralidade de vertentes, umas científicas, outras espirituais propriamente ditas, algumas ateístas e, por fim, um ou outro profundamente irritado pois, no dia 02 próximo, São Paulo há de ser cortada pela metade, impedindo-se o trânsito da cidadania.
Não se perca o foco da redação vincada nos escritos ditos sagrados (Levítico, Romanos e Coríntios). O próprio Francisco, chefe supremo dos católicos, não escapa em dois momentos, o primeiro enquanto condena as tendências eventualmente anômalas da sexualidade, o segundo quando, contrito, pede desculpas pela imprudência, fechando as milenares páginas do texto bíblico: um angu de caroço. Leonardo da Vinci que o diga.