Resgate de mineiros no Chile
* Paulo Sérgio Leite Fernandes
Resgate de mineiros no Chile
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Luiz Zanin Oricchio, cujos predicados incluem a função de crítico de cinema e jornalista, além de psicólogo, refere o drama dos mineiros chilenos que há dezenove dias estão soterrados a 700 metros de profundidade na mina de San José, no Atacama. Segundo consta, aqueles trabalhadores têm espaço para movimentação e começam a receber alimentos por meio de uma sonda que os alcança por orifício de 15 centímetros de diâmetro. Os mineiros parecem estar em condições razoáveis. Comunicam-se com a superfície por interfone. Prevê-se salvamento em quatro meses, pelo natal.
A boa notícia é a expectativa de solução do acidente que, se não bem desbastado, prenunciaria tragédia maior. A má notícia é relembrada pelo próprio Luiz Zanin, enquanto encerra crônica pequena posta no “Estadão” de 25 de agosto, à página A14: “Good news is no news”. Evidentemente, a tradução é dispensável, pois qualquer brasileiro, mesmo o malandro do boteco, fala inglês, às vezes com sotaque texano. Apesar disso, a elegância obriga à versão livre: “Boas novidades não são novidades”, ou, melhor dizendo, “notícias boas não são notícias”. Atento ao ditado, o cronista começa a misturar as coisas: o mundo inteiro se volta à salvação dos trinta e poucos mineiros, havendo promessa de interferência da NASA, pois homens enclausurados em pequeno espaço durante tanto tempo reclamam mesmo muito auxílio, inclusive, psicológico. Paralelamente, todos os países devem concentrar esforços para impedir a execução da iraniana posta sob as fauces dos aiatolás. Aliás, não se consegue entender como o ser humano pode, de um lado, preocupar-se em salvar alguns e permitir que um tresloucado país dominado por religiosos obcecados execute mulher, submetendo-a a apedrejamento. É possível, até, que o presidente do Irã mande ao colega do Chile uma oferta de auxílio aos soterrados, ajustando-se à confraria mundial. São as contradições da vida. E “la nave va”.
* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos