Um Brasil livre, é o que desejamos
* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Um Brasil livre, é o que desejamos***
Não entendo muito de política. Alguns votaram em Plínio de Arruda Sampaio, o cavaleiro andante sacolejando a armadura enferrujada entre montes e vales, contando seus oitenta desengonçados anos. Plínio é um sobrevivente de priscas eras, como eu, embora haja entre os dois uns anos de diferença. Passamos pela ditadura, cada qual à sua moda. Tocante a Plínio, gosto de personagens messiânicas. Aquele velho Brancaleone, sacolejando armadura ferrugenta pelas encostas da vida, me encantava e encanta ainda. É lembrar o filme “O incrível exército de Brancaleone”. Se a memória não falha, era com Vittorio Gassman, conduzindo seus soldados maltrapilhos em busca de coisa alguma.
Houve uns milhões que votaram nele, repita-se, antecipando-se derrota fatal. Manifestação de protesto, renitência, reação enfim, embora não houvesse grande convicção quanto ao ideário democrático do candidato. Conscientemente ou não, fazia-se comparação entre Plínio, que não ocupava qualquer cargo público, e os outros concorrentes, vendo-se-o em desvantagem em razão de possível isolamento.
Inicia-se agora um segundo turno. Excluindo-se todos menos dois, há um casal disputando a presidência. Um homem e uma mulher, como naquela outra obra cinematográfica famosa, mas estes são inimigos. A moça seria a primeira criatura do sexo feminino a reger a nação. A mulher não tem antecedentes libertários conhecidos. O homem, igualmente, não é transparente na particularidade atinente ao respeito às garantias e direitos da cidadania. Duas incógnitas, certamente. Para quem ultrapassou, já adulto, o regime ditadorial de 1964 e acompanhou todo o trajeto brasileiro rumo à redemocratização, surge o receio de não avaliação adequada dos cuidados a serem dispensados à privacidade do cidadão, ao respeito à inviolabilidade do domicílio, à não intervenção na privacidade das ligações postais e da não violência aos segredos ínsitos ao exercício da advocacia, principalmente. Se houvesse, emanando de ambos ou de um só, uma carta de princípios no sentido indicado, os intelectuais brasileiros e os sobreviventes dos tempos antigos ficariam menos angustiados. Poderiam dar-se as mãos, os dois, prefixando um comportamento comum de cumprimento dos preceitos constitucionais específicos previstos a tal respeitabilidade. A intelectualidade brasileira ficaria mais tranqüila e aguardaria a estabilização do tumultuado momento respeitante ao sistema em vigor.
* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos.
** Áudio e vídeo
*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.