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A presidente do Brasil não quer apedrejar Sakineh

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
A presidente do Brasil não quer apedrejar Sakineh***

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O ministro Celso Amorim sai do governo logo em seguida, dedicando-se a funções na vida privada. Extremamente capaz, choverão ofertas de contratação. Ex-ministros e a grande maioria dos “saídos” mantiveram contatos preciosíssimos durante a vida pública, não ficando à deriva, a menos que pretendam pescar na fazenda. É lembrar o clássico da música brasileira regional: “ – Fiz meu rancho na beira do rio / Meu amor foi comigo morar / E nas redes nas noites de frio / Meu bem me abraçava pra me agasalhar / Mas agora, meu Deus, vou-me embora / Vou-me embora e não sei se vou voltar / A saudade nas noites de frio / Em meu peito vazio virá se aninhar”.

Não se diga que Celso Amorim tenha passado em brancas nuvens pelo Ministério das Relações Exteriores. Foi onipresente, auxiliado, é claro, pela monstruosa mídia posta à disposição do governo. Ali, uma simples gripe acometendo os altos dignatários provocava discussão séria sobre a origem da superbactéria, havendo, aliás, notícia recente no sentido de que uma espécie nova daquela coisa contém arsênico na composição. Celso Amorim tinha e tem condição de marcar seu nome na história do Brasil. Aquilo lá deve ser muito complicado, pois a ONU é constituída por mais de duzentas nações gravitando em torno do havaiano Obama, da saxônica Elizabeth (o marido ainda usa kilt em algumas cerimônias), do francês modulador das canções de Charles Trenet e da alemã. Esta, certamente por ser uma dama educadíssima, não gosta de chucrute, embora robusta. A Organização das Nações Unidas se compõe de vertentes curiosíssimas. Sérgio Ricardo, compositor e autor brasileiro ainda vivo, fez há muitos anos música nunca editada (existe uma fita por aí) chamada “A Liga das Nações”. A letra é agressiva, mas ele também era porque, numa apresentação pública, jogou o violão na plateia, motivando notícia em caixa alta num matutino do dia seguinte: “ – Violada no Parque”. Aquilo produziu esgotamento da edição do jornaleco.

Voltando-se a Celso Amorim, já se pode dizer, num vernáculo menos diplomático e portanto mais rústico, que o ministro, verdadeiramente, “pisou no tomate” enquanto saía. Recusou apoiar sanção contra o Irã, sabendo-se que oitenta ou mais países censuravam Mahmoud Ahmadinejad por violação de direitos humanos, notadamente no possível apedrejamento de Sakineh. Não se sabe o que deu na cabeça do ministro, por alguns irmanado a Ruy Barbosa, o “Águia de Haia”. Embora franzino e dizedor de discursos bem compridos, Ruy nunca aprovaria o uso de tijolos contra a cabeça de Sakineh. O exemplo deveria valer. Não se conhece muito bem a teia enlaçando o Ministro das Relações Exteriores do Brasil e a Presidência da República. Parece que um e outro se davam bem. Devem ter conversado, à época. Consta que o presidente Lula tinha igualmente muito boas relações com o iraniano e seus aiatolás. Celso Amorim parece ter conversado a respeito do assunto. É assim que se faz. Se consultou o Chefe do Poder Executivo, há de amargar sozinho a atitude impensada, porque Luiz Inácio, segundo a maioria, é um libertário e não aconselharia abandonar-se a moça a ódio dos apedrejadores. Aliás, amigo fiel não entrega o outro.

A presidente Dilma chega agora, defendendo as mulheres iranianas, sem exceção de Sakineh. Ou está contrariando Lula ou se opõe a Celso Amorim. Dentro do contexto, ou o ministro já ia pra casa antes do incidente diplomático ou, com razão maior, viaja pra represa, munido da vara de pescar, nunca voando como uma águia altaneira, mas equiparado, quem sabe, a um primo menos nobre daquele animal sagrado. Cuida-se, certamente, de uma questão ornitológica.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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