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Senador da República é multado por recusar o bafômetro

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Senador da República é multado por recusar o bafômetro***

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Jornais do dia 18 de abril corrente noticiam que o Senador Aécio Neves, carregando nas costas muitos milhares de votos mineiros, foi multado duas vezes no Rio de Janeiro: uma por estar com a carta de habilitação vencida, outra por se recusar a fazer o teste do bafômetro, aquele mesmo que mede dosagem alcoólica apurável na respiração. Em suma, um aparelhozinho antipático e não muito recomendado do ponto de vista higiênico, embora se afirme que há substituição de umas partes externas a cada utilização. Dizem que as bactérias aeróbicas não respeitam, hoje, limitações normais de proliferação e resistência. Tocante às anaeróbicas, ou seja, àquelas que não dependem de oxigênio, certa vez, anos atrás, afirmei que os primeiros astronautas, ainda dependendo de instrumental meio rústico, devem ter lançado ao espaço um monte delas. Alguém afirmou que o raciocínio era plenamente equivocado. Agora, recentemente, surge informação no sentido de que tais bactérias resistem a cerca de cento e cinquenta toneladas de pressão, isto significando a possibilidade de não extinção na chamada estratosfera ou, se preferirem, no espaço sideral. Dentro do contexto, não parece que o Senador Neves seja compulsivo na manutenção da assepsia e cuidados extravagantes com a higiene, como se fosse um Howard Hughes tupiniquim, mas a submissão a teste de bafômetro não é muito confortável. Assim, exagerando ou não numa dose de uísque, qualquer motorista se sente violentado com a atividade policial referida. Quanto à habilitação irregular, não seria ele o primeiro ou o último a exibir tal defeito, sabendo-se que o sistema de verificação da aptidão a dirigir é cada vez mais sofisticado e aborrecido, valendo lembrar, também, aqueles selos postos em São Paulo depois das vistorias no bafejamento de gases prejudiciais ao ambiente.

O único rescaldo positivo ou satisfatório à população concernente às multas impostas ao Senador seria aquele de dar ao povo a sensação de serem todos iguais perante a lei. Os desnutridos gostam disto. Relembre-se, entretanto, que no Rio de Janeiro, que continua lindo, tudo acontece diferente mas, naquelas bandas, um Senador até que não é grande coisa. Se bobear, entra na porrada. Se fosse um Tom Jobim, um Vinícius ou um Chico Buarque, desde que reconhecidos, os fiscais, possivelmente, pediriam uma foto para mostrar às crianças em casa, mesmo porque os porres, se e quando existindo, sempre seriam consumados em locais muito discretos. Um Jobim é um Jobim (não o Ministro), um Vinícius é um Vinícius, um Senador, no Rio, não merece respeito e honras maiores. Assim, vai o parlamentar para o bafômetro que, aqui entre nós, não serve à geratriz constitucional de multa. Mais cedo ou mais tarde a Carta Magna servirá de parâmetro na discussão. Até lá, o Senador se defende e empurra a decisão por uns dois ou três anos. Sabe-se que Aécio não bebe álcool e só guia de vez em quando. Toma coca cola. Não precisa de carta.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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