Ainda o assassínio de Bin Laden
* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Ainda o assassínio de Bin Laden***
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Barack Obama assumiu a autoria do assassínio de Bin Laden, o maior delinquente do século XX e, provavelmente, do XXI, pois a competição seria extremamente difícil. Não se sabe qual a sensação de alguém responsável pelo decreto de homicídio. Na verdade, matar alguém, ressalvadas as chamadas justificativas legais, é conduta gravemente punida, embora, no Brasil, crimes patrimoniais recebam, muita vez, condenação maior. Assisti a um filme, semana passada, chamado “Jogos de Poder”, ou coisa assemelhada. O personagem central é Sean Penn. Cuida-se da história de um ex-diplomata norte-americano, casado com uma agente do serviço secreto (CIA). A moça tinha dupla personalidade. Poder-se-ia chamá-la, no sentido psiquiátrico, de bipolar. Mãe de família, trocava as fraldas das crianças e negociava nos países do Oriente Médio, buscando descobrir se Saddam Hussein prepara ou não uma bomba atômica ou armas químicas. Descobriu que não. Isso não interessava a Bush, porque havia necessidade de uma guerra. Bush estava de olho no ditador Hussein. Houve morticínio e Saddam terminou seu império com o pescoço na forca.
A morte de Bin Laden insinua coisa parecida. A espiã norte-americana acentua que não havia qualquer estoque de armas químicas ou preparação de artefato nuclear. No fim, o ex-embaixador, o marido, inicia campanha popular que acaba desmoralizando o esquema da Casa Branca. Encontrou-se um “laranja” condenado a pena mínima pelo vazamento da informação quanto à identidade da mãe de família (era segredo de Estado) e tudo continuou como dantes na terra de Abrantes.
O assassínio de Bin Laden se explicaria pelo horror produzido ao tempo das duas Torres Gêmeas. Feriu-se profundamente o coração da América do Norte. Se retorsão viesse – e veio – nenhum americano acharia ruim. Juristas internacionais, entretanto, acentuam que a forma de vingança não encontra mínima justificativa em qualquer estatuto penal, embora na Arábia ainda exista o olho por olho, dente por dente. Se assim fosse, Obama precisaria mandar matar mais 2.999 criaturas, podendo haver um excesso, a título de juros moratórios. Qualquer explicação correspondente ao denominado “estado de guerra” não tem estrutura em raciocínio adequado. Dentro de tal contexto, se houver afirmativa no sentido de que Obama é um homicida, é réu confesso, o que não seria nada de mais, pois teria exercido um direito a lhe ser assegurado por qualquer do povo. Deve ser uma sensação extravagantemente curiosa, aquela de se ter, remotamente, o poder de mandar matar, dormindo tranquilamente depois. Faz parte. Que não vire hábito…
* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos.
** Áudio e vídeo
*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.