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Raimundo Pascoal Barbosa

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Raimundo Pascoal Barbosa***

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O cancioneiro popular é maravilhoso. Substitui com vantagem, às vezes, os sofisticados poetas que existem por aí. Não se dirá, evidentemente, que um Carlos Drummond de Andrade possa ser aviltado por um Paulo Vanzolini, ou mesmo por um Cazuza. São coisas diferentes. Entretanto, quem se dispuser a entoar versos de Orestes Barbosa há de se emocionar com a antológica estrofe: “– A lua furando o nosso zinco, salpicando de estrelas nosso chão”. Que coisa bonita! Certo dia, numa das pouquíssimas oportunidades em que falei no Tribunal, apoderei-me da imagem e disse: “– O sol perfurando os vitrais daquela catedral da Justiça, salpicando o chão com marcas, umas vermelhas cor de sangue, outras douradas como os cabelos da donzela, as primeiras remontando as tragédias, as outras mostrando a alegria dos vencedores”. Na verdade, digo isso tudo porque me lembrei de Raimundo Pascoal Barbosa, o “Jerimun”, que veio do Norte, ou Nordeste, melhor dizendo, lá do Ceará, ao tempo de FEB (Força Expedicionária Brasileira), cujos soldados, por lei, não precisavam prestar vestibular nas faculdades oficiais. Quais as ligações entre ele e Fagner? Vi Raimundo na rua, uma vez, há quarenta anos atrás, vestindo um terno branco, alvo como a neve e todo imaculado. Lembro agora a razão ao recordar verso lindo de Fagner: “– Paletó de linho branco / Que até o mês passado / Lá no campo ainda era flor”. Toda vez que penso no “Jerimum”, um dos maiores criminalistas que o Brasil já teve, relembro Vanzolini. Este conta, na música, a história de alguém que, também, chegou aqui vindo lá de cima, com antecedentes, diga-se de passagem, bastante curiosos. O verso é assim: “– Quando eu vim da minha terra / Veja o que eu deixei pra trás / Cinco noivas sem marido / Sete crianças sem pai / Doze santos sem milagre / Quinze suspiros sem ai / Trinta marido contente / Me perguntando ‘já vai’? / E o padre dizendo às beata / ‘Milagre custa, mas sai’”.

Raimundo Pascoal Barbosa se comunicava comigo bastante, sempre usando velha máquina de escrever. Dizia: “– Paulo Sérgio, sua família é de Muzambinho, os ‘Leite’, tudo bandido, mas não daqueles que tomam dinheiro de viúva. Resolvem as coisas na ponta da faca”.

Guardei os bilhetes e a memória de Pascoal Barbosa. Parece que a OAB criou uma condecoração, ou medalha, com o nome dele. “Ça va”!

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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