Falemos do “Ganso”
* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Falemos do Ganso***
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Os jornais de domingo, seis de maio de dois mil e doze, reinventam o fenômeno da corrupção no Brasil. Funciona assim: se não houver uma boa notícia sobre qual servidor público tomou o dinheiro de alguém, o jornal não vende. Daí, a imprensa nacional, com relevo para a televisão em geral, fica procurando as perebas dos políticos. E quando, por força dos feriados, os malandros não furtam, porque era um domingo e na expressão de Vinícius de Moraes, nesse dia “todos os maridos funcionam regularmente”, é preciso rebuscar os arquivos e ver o que sobrou de ruim na semana que passou. Especializa-se a redação dos grandes matutinos, agora,em tisnar a vida dos tribunais, uma espécie de assassinato dos ícones. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo é a bola da vez. Sob um hipócrita e aparentemente respeitoso tom, os jornais sugerem comportamento inadequado da cúpula do colegiado ilhado na Praça da Sé, togas negras aparecendo de vez em quando às janelas do vetusto palácio planejado por Ramos de Azevedo, uma espécie de Niemeyer da época. Não se sabe qual a razão dessa iconoclastia.Em sentido psiquiátrico, é uma variante da “morte do pai”. Vai daí, pode haver um bando de jornalistas com sérios problemas emocionais. Não se pode enlamear a toga do magistrado. Por via travessa, acerta-se o coração dos advogados. É preciso cuidar do assunto com muito equilíbrio e lealdade. Não se diga que o cronista é intimo da magistratura. Vive longe dela, comunicando-se oficialmente há cinquenta e dois anos, sem aproximação maior. Mas um juiz é um juiz. O trêfego, o desonesto, o peculatário, enfim, são isolados dentro da família. Sempre deram um jeito neles, com pouca gente sabendo. Entretanto, o assunto é suculento numa segunda-feira magra. E lá vêm eles outra vez.
Dos jornais publicados no dia em que Deus descansou (o sétimo), sobra de bom “o Ganso”, companheiro assíduo de Neymar, geniozinho posto no mundo por humilde casal morador em Santos. Os matutinos, ali, têm razão: os dois garotos são excepcionais. Tenho lido muitas obras de psicologia. Dizem que os ambidestros possuem qualidades idênticas nos lobos direito e no esquerdo. Isso justificaria, por exemplo, o bom uso dos dois pés pelo jogador de futebol. Ganso e Neymar devem ser assim, tudo com uma pitada de intuitiva capacidade de prever os movimentos no campo.
Vi, meses atrás, uma biografia de Leonardo Da Vinci. Escrevia da direita para a esquerda.
Veja-se a diferença entre o jogador de futebol ambivalente e o outro que ficou obsessivamente chutando a gol com o pé que não é o bom. Os comentaristas dizem: “– Atrapalhou-se porque chutou com a perna ruim”. É uma desgraça. Poucos nascem com essa qualidade. De repente, Ganso e Neymar são assim. usam igualmente as chuteiras. Deus os conserve. São, os dois, uma boa chegança no lamaçal dos jornais paulistas.
* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e dois anos.
** Áudio e vídeo
*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.