Home » Ponto Final » Pesquisadores cariocas fatiam cérebros

Pesquisadores cariocas fatiam cérebros

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Pesquisadores cariocas fatiam cérebros***

_________________________________________________________________________________

Pesquisadores cariocas, entrevistados por matutinos importantes, dão noticia de estarem a fatiar cérebros humanos, buscando descobrir mistérios encerrados naquela massa flutuante responsável pela qualidade, inclusive, de o homem conscientizar a própria existência. Dizem que esta é uma das diferenças fundamentais entre o ser humano e os chamados animais inferiores, ou seja, a capacitação de verificar o fato de se estar no mundo, numa espécie de espiritualização da matéria.Em outros termos, a possibilidade da criatura sentir que existe. De qualquer forma, alguns médicos, lá na cidade maravilhosa, cortam afanosamente pedacinhos do cérebro, procurando, quem sabe, encontrar Deus lá dentro. Um dos cientistas vai à África catar um cérebro de elefante, afim de estabelecer coincidências e diferenças conosco. Aliás, outro dia me disseram que o elefante é o único animal no mundo que tem tromba…

A imprensa noticia uma grande descoberta: não temos cem bilhões de neurônios, mas apenas oitenta e cinco bilhões. Sobram quinze bilhões, não se sabendo o que fazer com a diferença. Ao lado disso tudo, os jornais descrevem uma técnica de colocar algumas porções do cérebro numa espécie de liquidificador, buscando-se  preservar células. Tudo muito bacana, sabendo-se, quanto ao sistema glandular, que progredimos bastante, pois decompusemos hormônios e incorporamos as endorfinas, dopaminas, a serotonina e outros sumos já usados na linguagem coloquial. Na verdade, qualquer jogador de futebol de várzea, quando entrevistado por uma radio comunitária, explica que gastou demais adrenalina, não suportando bem o 2º tempo.

Dia desses, uma jovem rica furtou doze calcinhas sumárias num shopping, daquelas que os homens cobiçam lubricamente nas vitrines, modelo “T”, como se diz por aí. Presa, passou a noite no cimento frio de uma cela podre, mas o flagrante foi relaxado. Há de ser absolvida, pois tudo se deveu a perturbações hormonais derivadas do excesso de serotonina. Vê-se que a ciência, com relevo para a biologia, serve para se encontrar um número mais crível de neurônios no cérebro e razoável justificativa para subtração de “sunguinhas”. Avançamos muito.

 

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e dois anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

Deixe um comentário, se quiser.

E