Radioatividade deforma borboletas
* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Radioatividade deforma borboletas***
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Quando eu era pequeno, tinha coleção de borboletas, atividade da qual me arrependo terrivelmente até hoje. Dizem que as crianças têm componentes sádicos em maior ou menor grau. Deve ser verdade, pois meninos do campo matam passarinhos com estilingue. Há alguns, inclusive, amarrando coisas nos rabos dos gatos, soltando-os depois a ver como fazem os bichos.
Há muitas e muitas espécies de borboletas. Algumas são lindas, voejando com aquelas asas multicoloridas e fazendo a alegria de todos. Daí o arrependimento, a pena, o dó, pois o bicho deve morrer para poder ser exposto.
A extinção da espécie produziria prejuízos grandes para a flora e fauna. No Japão, o bichinho significa a mulher, por ser muito graciosa.
Vai daí, falando em Japão, a usina de Fukushima explodiu. Todo mundo sabe disso. Passado o ponto máximo daquela tragédia, o governo japonês pretende reativar a energia atômica no país, tudo com protestos dramáticos e passeatas na rua.
Aqui no Brasil, a presidente acaba de ser aclamada como a terceira mulher mais poderosa do mundo (saiu na capa da revista Forbes). Herdou, em meia construção ainda, a usina atômica de Angra III. Pesquisa realizada neste site diz que 61% dos votantes não querem o término daquele tumor diabólico. Entretanto, segundo consta, a edificação vai à frente. Os japoneses, a exemplo de Chernobyl, têm horrível lembrança de Fukushima. Muita gente morreu e há sobreviventes aleijados, não se falando naqueles envenenados a morrerem devagar.
Hoje em dia, nas grandes cidades, há gente que nunca viu uma borboleta. Vi uma outro dia. Era bonita, mas perdera uma asa. Fiquei em dúvida sobre se lhe apressava ou não a morte, para evitar o sofrimento. Faltou coragem, deixei-a enroscando-se no chão.
A lembrança chega agora, pois a radioatividade de Fukushima, segundo notícia, causou mutação em borboletas. Na verdade, nasceram muitos bichinhos deformados. Tinham e têm asas menores e olhos desnaturados, transmitindo os defeitos à descendência. As anomalias se mantiveram mesmo com acasalamento de borboletas saudáveis como os insetos de Fukushima. Alguém deveria desencadear, aqui, uma campanha contra o término de Angra III. O símbolo poderia ser uma borboleta saudável. Tocante àquelas herdeiras de Fukushima, é bom dizer que a radiação também se projetaria em seres humanos. Aliás, há entre o povo a errônea afirmativa de que as baratas são imunes à radiação. Mentira. Elas vivem em buracos. Têm, quem sabe, alguma proteção contra os efeitos referidos. Só isso.
* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e dois anos.
** Áudio e vídeo
*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.