Lesões corporais no esporte
* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Lesões corporais no esporte***
____________________________________________________________________________
O futebol, sempre em manchetes no Brasil, assumi agora relevo universal, em razão da Copa. Na verdade, sob o manto de um jogo sofisticado, sempre se pôde ver um combate físico ou uma guerra dissimulada. Aquilo toma características especialíssimas quando a rivalidade é maior (duas nações, por exemplo). Uruguai está nesse contexto. Paraguai também estaria, se a tanto chegasse, na medida em que o Brasil, em priscas eras, dizimou grande parte dos moços. Isso significa, é claro, que o brasileiro nunca foi bonzinho como apregoado por aí.
Vem o assunto à luz do dia quando aparece, na televisão, imagem de uns e outros, com relevo para Neymar Jr., manquitolando em razão de ferimentos sofridos durante os jogos. Neymar trazia, inclusive, uma espécie de maquineta magnética a lhe estimular um dos joelhos, lesado por adversário. Paralelamente, ainda se fala na mordida que Soares deu no ombro de um italiano, enquanto um espera a chegada de uma bola cruzada por outro integrante do time. Isso fez o cronista se lembrar de uma época em que, aos onze ou doze anos, estudava num colégio marista (achava-se que o escriba tinha vocação para o sacerdócio). Havia, no pátio do colégio, a decisão de um campeonato interno de futebol. Todos os times têm lideranças. As duas facções em conflito, no campo de areia, tinham os seus: de um lado, “Lemos”, perito em dribles e artimanhas. Na outra parte, o chefe dos outros dez era “Abobrinha”, dono de potentíssimo chute na perna esquerda. Os dois brigaram no banheiro, só eles e mais ninguém para o famoso “deixa-disso”. Lemos meteu uma mordida na bochecha de “Abobrinha”. O mordedor ainda é vivo, o cronista crê. Tocante ao lesado perdeu-se de vista mas teria, hoje, a idade do adversário e do próprio escriba. Aquilo marca. Em legítima defesa ou não, é caso para cirurgia plástica, dependendo da sofisticação do ferido ou da parte do corpo machucada. Cuida-se, é certo, na hipótese do jogador da Copa e dos dois meninos, de lesão corporal assumindo, em algumas oportunidades, a condição de ferimento grave. O difícil, então, é separar a lesão produzida na pura e simples arte da prática esportiva daquele intento de impedir o adversário de prosseguir na disputa, pondo-o no hospital ou, na melhor hipótese, impedindo-o de continuar. Isso tem acontecido a Neymar Jr. É caçado como se fosse uma perdiz perseguida por cães farejadores. Tentam pegá-lo porque, no fim das contas, é guerra de uma nação contra a outra, perdendo-se na noite dos tempos a incapacitação do soldado atacado. É assim e não é porque, na alternativa de uma machucadura grave praticada contra o menino, o agressor há de restar tatuado durante o resto da vida, por conduta extrapolante da prática leal do esporte. Ver-se-á, ao fim, se o rapaz sobrevive aos ataques, esperando-se, dos demais, a compreensão adequada a que as regras não sejam ultrapassadas. Ponto Final.
* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e quatro anos.
** Áudio e vídeo
*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.