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Deputado evangélico reza contra a OAB

Paulo Sérgio Leite Fernandes

Há deputados federais pretendendo vingança contra a Ordem dos Advogados do Brasil em razão de críticas feitas pelo atual presidente do Conselho Federal. A proposta, na Câmara, é de instalação de uma CPI para verificar as intimidades da corporação de advogados. No fundo, há movimento subreptício na tentativa de terminar o exame de ordem (não da Ordem, como se diz vulgarmente). Na verdade, o país tem uns setecentos mil advogados e, quem sabe, um milhão de bacharéis tremeluzindo nas estradas da vida, como zumbis procurando um lar só admissível a quem tem condições mínimas para abrir a porta de entrada. Evidentemente, o número de formados deixados à deriva estimula a cupidez de parlamentares pretendentes a uma reeleição. Procurando explicar a existência, no Brasil, de mais de mil e trezentas faculdades de direito, o candidato à OAB-SP, Alberto Zacharias Toron, em entrevista ofertada a este site (clique aqui para ler a entrevista), teceu algumas considerações:

1) – Há interesses econômicos graúdos na instalação de cursos jurídicos, pressionando-se então, por meio de deputados regionais, o Ministério da Educação.

2) – Aquilo se transforma numa reivindicação localizada, estimulando-se a comunidade.

3) – O Ministério da Educação, pressionado, sucumbe à pretensão, porque precisa, também, de retribuição política adequada. Em outros termos, um jogo de “toma-lá-dá-cá”. Na verdade, uma enorme picaretagem acobertada por interesses inconfessáveis, disto não se afastando os sucessivos ministros ocupantes da pasta, sem exceção de Fernando Haddad. A intenção, na Câmara dos Deputados, de enfrentar a Ordem dos Advogados, tem endereço errado, não se conhecendo as razões pelas quais, até hoje, o Ministério da Educação tem sido “blindado” contra qualquer investigação, inclusive do Ministério Público Federal. Já se percebe que as coisas não são tão simples assim. Há um lamaçal sob o assoalho do MEC. Valeria muito mais a pena, é evidente, uma boa vassourada embaixo dos tapetes do rotundo segmento do poder. Isso deveria interessar aos deputados, sim, não se conhecendo se conduta dessa natureza ofenderia os interesses regionais. Dê-se exemplo, não no campo do direito, para não se dizer interesseiro o cronista, mas na medicina. Com uma só penada, duas faculdades de ensino médico são abertas em São José do Rio Preto, disputando-se defuntos para uso dos meninos, uma ao lado da outra, enquanto nas palafitas morre gente por falta de atenção primária. Vai aqui, portanto, um recado a Eduardo Cunha, evangélico e, portanto, bem orientado pelos anjos da guarda: nas orações da manhã, volte os olhos para as mil e trezentas faculdades de direito abertas, no país, a poder de iniciativas não assépticas, buscando então orientação a investigações imprescindíveis. Vai surpreender-se com os resultados, ou não, na medida em que, justificando-se os esclarecimentos de Alberto Zacharias Toron, descobrir que os cursos de direito servem há muito tempo para a satisfação de débitos e créditos políticos envolvendo múltiplos parlamentares convergentes.

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